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É pretensão deste espaço, ser um depósito de ideias, tónica de pensamentos do seu autor, sobre a actualidade em geral e com especial incidência em várias Culturas, no Turismo, no Património e na Gastronomia, em Vila Nova de Poiares, na Região das Beiras/ Portugal e no Mundo. Pedro Carvalho Santos, pensou-o ... e o fez ...

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Localização: Vila Nova de Poiares, Coimbra, Portugal

Existo - creio no meu Deus.

terça-feira, dezembro 11, 2018

Natal


Natal – Festa da família

(Texto Integral)

O período de final de ano civil coincide com as festas de Natal e fim de ano. Existem lugares no mundo onde o nascimento de Cristo não é oficialmente celebrado por uma questão de liberdade religiosa, sendo essa festividade designada de Festa da Família. 

O Natal em Portugal associa-se à família, ao inverno, à lareira, à neve, aos presentes, à nossa mesa gastronómica e báquica, mas acima de tudo ao nascimento de Cristo. No Natal partilham-se os presentes que, acima de tudo, deveriam lembrar o presente que Deus nos deu, Jesus Cristo, assim como os presentes dos Magos do Oriente a Jesus.

A celebração do Natal terá tido origem em festas Celtas, de povos que habitaram o Norte da Europa, referenciando o culto dos mortos. Estas cerimónias antigas remontam ao Neolítico, associando-se à sucessão das estações do ano - os equinócios e solstícios. O ano Celta iniciava-se em novembro, com a celebração dia dos mortos, que a cultura anglófona transportou para o resto do mundo com o Halloween, persistindo na nossa cultura religiosa a comemoração do Dia de todos os Santos.

Em Portugal temos a tradição de construir o presépio contando a história do que supomos ter sido o nascimento de Jesus, utilizando imagens da nossa Tradição, Identidade e Memória. Os presépios existiam só em casas abastadas e mais ricas, e em Poiares existiam poucos, há alguns anos era possível deleitar-nos com um presépio privado de Machado de Castro, numa caixa de madeira com vidros de grande tamanho, com as várias figuras e cenários do nascimento no menino. A Estrela, que está sempre presente no presépio ou na árvore não só representa o elemento que conduziu os Magos a Jesus em Belém, mas a estrela do bem que nos deveria guiar nesse caminho para os pressupostos de Cristo. Tudo isto culminando na Família. Jesus nasce dentro de uma família, como todos nós, fazendo parte da família de Deus. Independentemente das convicções religiosas de cada um, deveria ser esta a mensagem das festas de Natal. 

O Natal no concelho de Vila Nova de Poiares é festejado desde a sua fundação e possivelmente desde sempre nessa tradição portuguesa. Em jornais, revistas, boletins podemos confirmar isso mesmo desde o século XIX. O Natal é hoje comemorado de forma diferente de quando o nosso concelho nasceu em 1836. Mantém-se, no entanto, a característica da reunião familiar. Vindas de vários locais de Portugal (nomeadamente dos grandes centros como Lisboa e Porto) e de vários países do mundo, as famílias reencontram-se nos locais mais tradicionais, que de algum modo os ligam às suas origens. Juntam-se à volta da mesa natalícia, cumprindo tradições que passam de geração em geração.

O período em que decorrem as festividades natalícias varia de país para país. No Norte da Europa, como é o caso da Suécia, as festas de Natal começam a 6 de dezembro, dia de São Nicolau, daqui a origem a tradição do pai Natal, devido às prendas que São Nicolau oferecia. Aqui a árvore de Natal primitiva não era enfeitada, só posteriormente iluminada e decorada, dando luz e cor ao Natal que hoje todos conhecemos.

Em Portugal a árvore de Natal foi introduzida pelo Rei D. Fernando, consorte da Rainha D. Maria II, monarca reinante aquando do nascimento do nosso concelho, “Santo André de Poyares”. D. Fernando foi um rei culto, apelidado de “o rei artista”, oriundo do Norte da Europa, da grande Casa Saxónia, Coburgo e Gota, de entre muitas obras dignas de nota, mandou construir “a expensas suas” o Palácio da Pena em Sintra, referência na Europa e no mundo.

No nosso concelho as iluminações no século XIX e inícios do século passado eram de candeias de azeite, candeeiros a petróleo, velas e só mais tarde a gasómetros, iluminando a escuridão das nossas aldeias, em virtude da eletrificação só se ter realizado muito mais tarde, a partir das décadas de 50 e 60, do século XX. Num anúncio ao “azeite” que passa regularmente nas televisões na época natalícia, alude-se à consoada, às tradições e ao som do: “ò rama, ò que linda rama, ò rama da oliveira, o meu par é o mais lindo, que anda aqui na roda inteira” …, inspirando-nos na própria identidade Portuguesa com esse “oiro” líquido das nossas oliveiras que “regam” o “fiel amigo”, o bacalhau, numa clara alusão à família, ao convívio, às nossas tradições. Numa lareira quente, a mesa da sala grande, possivelmente com uma braseira, o crepitar das “carcódoas” de pinho, está o “bafo” quente, hoje, … porque “dantes” era dos animais, … lá fora está o frio ou a neve e as árvores “despidas”! É assim o Natal, a nossa terra, é assim a tradição do nosso país. Esta é a verdadeira imagem de Natal, não um Natal de consumismo e compras a que a todos se habituaram, onde o pai Natal é Vermelho (talvez do refrigerante Americano) e incentiva o comércio e a indústria do consumo.

A consoada, fosse mais rica ou mais pobre, era sempre “um rancho melhorado”. As Terras de Poyares sempre foram ligadas ao azeite, com pratos regados do precioso líquido. Desde que Santo André de Poyares surge como concelho, temos registos da venda de bacalhau. O “fiel amigo” terá sido rei em algumas mesas Poyaristas. Digo algumas, porque estaria longe da bolsa de muitas famílias, a pobreza também grassava! A Tibornada, alguidar de barro vidrado, terá tido o seu início nos lagares do concelho e região. Pão, couves e batatas cozidas, bacalhau, regado com azeite, sem esquecer a “cabeça desmembrada” do alho que lhe oferece o sabor peculiar, tudo em camadas. Para quem não gosta desta “misturada tradicional” ficamos pelo prato normal de bacalhau com batatas, ovo e couves cozidas, misturando por vezes o miolo de broa ou pão. A consoada, noite de Natal, será sempre uma noite mágica, principalmente para quem tem sentido Cristão. Materializa uma refeição simples talvez de “consolo”.

Mas com o decorrer dos tempos outros pratos e outros gostos se juntaram à mesa Poiarense, seja para a noite de Natal, seja para o almoço do dia de Natal. O peru veio das Américas com frutos tropicais, assado e/ou recheado. De Portugal e das Beiras, saberes e sabores de cabrito (também destas “Terras Poyaristas”); quem sabe em alguma casa a chanfana ou o chispe; o leitão assado de outras regiões, algumas vizinhas; o polvo no forno, mais do litoral; lombo ou vitela assada; galo, galinha gorda, ou capão; enfim, um prato melhorado e por vezes um aproveitamento do que sobrou da “Tiborna”, uma “roupa velha”. Nem sempre a vida sorriu! Também esta Terra de Marchantes e Comerciantes marcou um cardápio de variedade gastronómica, típico de Portugal.

No final do repasto, segue-se, para muitos crentes, a missa do galo, momento máximo da noite, dando um verdadeiro sentido ao Natal cristão. Ali nas Igrejas avistavam-se as figuras do presépio, geralmente só as principais de tamanho maior. As figurinhas do presépio como hoje as conhecemos, foram como tantas outras tradições que existem hoje difundidas e generalizadas há cerca de 50 anos. Depois da missa do galo é hora de regressar a casa onde se comiam pinhões, que por vezes ainda estavam nas pinhas, que se aqueciam ao lume para abrirem. As passas de uvas que estavam penduradas nas adegas e lojas desde as vindimas de setembro também se degustavam, “doces como o mel”. Figos secos, avelãs, nozes, amêndoas, ameixas, alperces, e outras frutas, secas e cristalizadas pelo açúcar natural, eram as guloseimas dos produtos que a Terra dava. Nas casas da maioria dos Poyaristas no que toca aos doces, eram rainhas as filhoses. Com açúcar? Talvez poucos, era mais comum com mel, pois o açúcar era caro e não havia em abundancia. Rabanadas, ou fatias douradas, com calda doce, sonhos, arroz doce, pudim, leite creme e broinhas. Maçãs assadas com açúcar ou mel e sempre “melaços”, porque o primeiro era caro, ou outras gulodices, para alguns as únicas ao longo do ano, porque os tempos eram de aperto e só talvez em casas mais ricas poderia aparecer um bolo rei, porque nas outras nem em sonho!   

Nesta quadra a música estava sempre presente, com um grande tronco de oliveira ou carvalho na lareira, um bandolim ou braguesa, um cavaquinho ou pandeireta, quem sabe um acordeão, cantava-se muito na noite de Natal. Quanto à tradição do sapatinho, lá para os lados do Pereiro era um “tamanquinho”, só na manhã do dia de Natal se encontrava um rebuçado, alguma “lambeta” ou lambarice.

Tempos antigos desde o nascimento deste concelho com mais de 180 anos. Tempos difíceis que eram amenizados na altura do Natal, das festas do menino, da magia das festas religiosas, num tempo de trabalho árduo para a maioria dos que viviam nestas Terras. Para outros, proprietários de terras e comerciantes, uma vida mais “doce” e facilitada. Para todos um sentimento de comemorar o Natal, esse nascimento do “Deus Menino”.



“ Não negoceio o Natal.

A magia do Natal são dois meses de cor e luz, com sinos e sons.

Terminados os finados, festejamos até aos Reis, esses Magos do Oriente que vieram adorar o menino.

O Natal é apenas o nascimento, … e esqueçamos a folia com compras e arrelias!  

O Natal é um colorido, uma explosão de força e alegria.

É difícil haver período tão lindo e cheio de virtude, durante todo o ano nem o calor do Verão acalenta este amor.

Natal é Festa de Família, de tréguas e amizades, assim como Rancho melhorado.

O Presépio é uma história contada, em Portugal, os usos e costumes, a tradição e a memória.

É a nossa identidade mostrando o nascimento do Deus menino nas palhas deitado desde o nascer da aurora.

Com sons e alegria, com luzes e simpatia, comemoramos o Natal com esperança Universal.”



A todos um Santo e Feliz Natal de 2018. 

Pedro Carvalho Santos o fez, na Casa da Lomba d’ Aboreira em Risca – Silva em Dezembro de 2018