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Localização: Vila Nova de Poiares, Coimbra, Portugal

Existo - creio no meu Deus.

quarta-feira, abril 28, 2010

Elementos Históricos - Vila Nova de Poiares

Apresentação Histórica do Concelho de Vila Nova de Poiares
Cabe-me a mim a tarefa de fazer uma breve apresentação Histórica do Concelho de Vila Nova de Poiares.
Vila Nova de Poiares situa-se no centro de Portugal, mais propriamente no distrito de Coimbra entre as serras do Carvalho, de São Pedro Dias e de Magarrufe assim como dos rios Alva e Mondego.
Em termos administrativos faz fronteira com os concelhos de Coimbra, Miranda do Corvo, Lousã, Gois, Arganil e Penacova.
O concelho de Poiares é constituído por quatro freguesias: Poiares (Santo André); São Miguel de Poiares; Arrifana e Lavegadas.
O concelho ocupa uma área de cerca de 100 Km2, apresentando uma densidade populacional de mais de 75 habitantes por km2.
Os vestígios de povoamento deste território, remontam à Pré – História, mais especificamente ao período Neolítico, compreendido entre o ano 5.000 e 2.000 a.C.
No alto da serra de São Pedro Dias encontramos um Dólmen que o testemunha.
Os Romanos deixaram também a sua marca.
Existem registos que nos dão conta de uma ponte Romana no lugar de “Murcella”.
Por aqui passava uma das mais importantes vias, que fazia a ligação de Coimbra a Bobadela, perto de Oliveira do Hospital.
Podemos constatar a passagem dos Muçulmanos neste espaço através das lendas e topónimos de que são exemplo, Moura Morta, a Toca da Moura ou as Mouras Encantadas.
Sabemos que desde os Século oitavo e nono se constituíram povoados neste território, o que se comprova em diversos registos documentais referentes à posse por parte do Mosteiro do Lorvão.
“Algazala”, “Lauredo” e “Sautelo”, são referidas em documentos de 777, em doação feita pelo rei Ordonho das Astúrias ao Mosteiro de Lorvão.
Este espaço circundado por três rios, Mondego, Alva e Ceira, terá sido objecto de cobiça por parte de alguns “Lusos”, que atraídos pelo clima temperado e cativados com a diversidade alimentar, carne de animais e peixe dos rios, aqui se foram fixando.
Os povoados foram crescendo nas colinas e nas margens dos rios, em especial do Mondego.
Documentação antiga refere a existência de Castros ou Crastos, que serviriam essencialmente para vigiar o trafico fluvial ou para refugio dos povoadores.
É neste contexto que nos surge a Albergaria de Poiares, prova cabal da importância destes caminhos, prestando apoio a peregrinos e viajantes na região das Beiras.
Já em 1258, aquando das inquirições mandadas realizar pelo rei D. Afonso III, é referida a Albergaria de Poiares.
As Albergarias eram locais onde se recolhiam viajantes e peregrinos aos quais se prestava algum conforto. Tratavam-se de instituições pias.
Os reis, geralmente ocupados nestes primeiros anos de vida do reino pelas guerras da reconquista, deixavam caminho aberto para a acção das rainhas que assumiam assim um importante papel na assistência dos necessitados, particularmente nestes verdadeiros hospitais de caridade.
A Albergaria de Poiares teve a sua fundação pela mão da Rainha D. Dulce, esposa do rei D. Sancho I.
Esta rainha comprou o local de “Ervedal” e seu termo, para aí mandar edificar a Albergaria de Poiares que fundara não longe de Coimbra.
Sabemos que em 1210 o Rei D. Sancho I deixou em Testamento 200 “moravedis” à Albergaria de Poiares.
No Tombo de Bens de 1589 da Universidade de Coimbra podemos confirmar os diversos foros que esta Universidade concedeu aos territórios que são hoje pertença do concelho de Vila Nova de Poiares, assim como as “Juradias” de Algaça ou São Miguel que aqui existiam.
O território do actual concelho teve como proprietários não só Instituições Religiosas ou de cariz Religioso, mas também nobres.
Aqui possuíam domínios o Mosteiro do Lorvão, na pessoa da Abadessa Dona Catarina de Albuquerque, bem como o Mosteiro de Santa Cruz, e ainda o Mosteiro de Santa Clara, que no século XVI nos aparece como tendo interveniente a Abadessa Dona Beatriz da Silva.
Em alguns documentos, como a Carta de Foral dada pela rainha D. Dulce à Albergaria de Poiares, no Mês de Maio de 1195, atesta-se a existência de diversas casas religiosas e pequenos conventos.
Disso são exemplo a Casa dos Frades da Concha, hoje lugar de Póvoa da Abraveia e o Convento de São Miguel de Poiares.
Nobres, podemos referir a Casa do Duque de Aveiro, Dom Diogo da Silveira, Conde da Sortelha e Senhor de Goes; Dom Diogo Manuel, Prior de Palmela, ou ainda Gaspar Juzarte e sua mulher de Montemor-o-Velho, que tem casais que partem(dividem), com “Omeres”, pertença da Universidade de Coimbra.
Também o Conde de Mira, Senhor de Penacova, Dom Sancho de Noronha aqui tinha domínios.
Em 1590 a “cabeça” das Terras de Poyares era no lugar da Arrifana.
Terá sido também nos primeiros séculos da edificação da Nação que surgiu o nome das “Terras de Poiares” – «Vimieira a par de Poiares».
Um nome que se relaciona de uma forma “apaixonada” e lendária com D. Afonso Henriques, através de uma lenda que conta o “feito” do Rei de Portugal a cavalgar da Sé Velha de Coimbra até às “Terras de Poyares” para travar um Cardeal Papal que havia excomungado o Reino de Portugal.
O Concelho de Poiares nasce no reinado de D. Maria II, fruto de reformas de reorganização administrativa levadas a cabo pelo Governo Setembrista ideologicamente orientadas por Passos Manuel e promulgadas em 1836.
Teve este concelho como primeira designação: “Santo André de Poyares”.
Primitivamente, as suas fronteiras eram limitadas a Sul pelo rio Ceira, possuía a Freguesia de Friúmes, hoje concelho de Penacova, a Freguesia de Semide da margem direita do rio Ceira hoje do concelho de Miranda do Corvo e parte da Freguesia de Serpins hoje do concelho da Lousã.
Em 1855, no reinado de D. Pedro V, devido a influências estranhas às autoridades administrativas do concelho, é Poiares “mutilado” passando estes territórios a fazer parte desses concelhos limítrofes.
Alexandre Herculano, no seu livro “Cenas de Um Ano da Minha Vida e Apontamentos de Viagem” testemunha-nos:
«O concelho de Poiares: espécie de América Inglesa: Liberalismo dos habitantes. A Aldeia de Santo André é a sua Washington – terrenos áridos mas cultivados» .
Podemos considerar o espaço da freguesia da Arrifana de suma importância até ao século XVIII, nomeadamente como ponto de passagem e de ligação das margens do rio Mondego até ás Varas mais importantes no interior do território.
O tráfego fluvial do Mondego, partia e chegava desde a Figueira da Foz até ao Porto da Raiva.
De Louredo as “Barcas Serranas”, carregadas de mato e carqueja, cavacas de madeira e outros produtos, desciam o rio em direcção a Coimbra e à Figueira da Foz.

Em meados do século XIX projecta-se o mais emblemático edifício do concelho, os seus Paços do Concelho, símbolo de independência e do Poder Local.
Será interessante observar a evolução que este nobre Edifício teve ao longo dos anos.
Foi construído ao longo das décadas de sessenta e setenta de Oitocentos.
O engenheiro que traçou este edifício fê-lo de forma sóbria e equilibrada, numa linguagem de tipo Neoclássico.
O projecto inicial foi riscado pelo Engenheiro José Carlos de Lara Everard.
Engenheiro militar que prestava então serviço no Ministério das Obras Públicas em Coimbra, estava a acompanhar as obras da futura “Estrada das Beiras”.
A fachada é formada em dois níveis de leitura ao gosto Neoclássico de Oitocentos.
Apelidado por “Palacete Municipal” foi o verdadeiro “Baluarte” da independência do concelho.
Edifício rectilíneo de proporções equilibradas é coroado por um frontão triangular simples, liso, com as armas do Rei D. Luís de Portugal ao centro, monarca reinante aquando da sua edificação.
O edifício foi profundamente alterado na década de ’50 do século passado.
Possuí um alçado a Sul de interesse. Este alçado terá tido grande influência na construção realizada em todo o concelho em particular no ultimo quartel de Oitocentos.
Na segunda metade do século XIX o concelho de Poiares sofre dois suprimentos.
O primeiro em 1866 e o segundo em 1895, tendo sido restaurado em definitivo a 13 de Janeiro de 1898, data em que hoje se comemora o feriado municipal.
Poiares Santo André foi elevado à categoria de Vila em 1905 pelo rei D. Carlos e obteve as suas armas municipais em 1938.
É do nosso conhecimento que em 1940, na exposição do Mundo Português, a Câmara terá enviado pela primeira vez o estandarte com as armas concelhias para a abertura oficial da exposição. Situado um pouco afastada do centro da vila, possui o concelho 2 edifícios com singular importância no contexto da História Local e Regional.
O Hospital de Beneficência Poiarense e a Capela de Nossa Senhora das Necessidades.
O Hospital foi obra pensada por alguns poiaristas radicados no Brasil, que numa atitude benfeitora quiseram melhorar a qualidade de sáude dos Poiarenses e de habitantes vizinhos.
A Capela foi benzida no dia 8 de Agosto de 1908 pelo Reverendo Pároco Manuel dos Santos Petronilho, na presença de inúmeras individualidades que assinaram a acta.
Esta Capela encontra-se rodeada por um parque que no segundo fim de semana de Agosto, se enche de visitantes e peregrinos em romaria para comemorar as festas em honra de Nossa Senhora das Necessidades, padroeira do Concelho.
O Património Humano do concelho é vasto.
Várias foram as figuras que se salientaram no país e estrangeiro.
Destas, destacamos o Professor Doutor Daniel de Matos.
Nasceu no lugar da Ferreira, nesta altura, Freguesia de S. Miguel de Poiares, no dia 6 de Outubro de 1850.
Foi Médico, Cirurgião, Parteiro, Professor da Faculdade de Medicina, Reitor da Universidade de Coimbra, Congressista e Orador notável, foi médico particular da Rainha D. Maria Pia, Sidónio Pais, Afonso Costa, António José de Almeida e Brito Camacho.
Recebeu várias condecorações portuguesas e espanholas e a Imprensa chamava-lhe “glória nacional”, o seu nome foi dado à rua onde morou, em Coimbra e à Maternidade da Universidade de Coimbra.
Em Poiares o seu busto é monumento público, no Largo com o seu nome.
Também a Escola Básica e Secundária de Vila Nova de Poiares recebeu o seu nome.
Com o 25 de Abril de ‘74, dá-se em Portugal a ruptura com o tipo de gestão que se tinha manifestado num período de aproximadamente meio século.
Os órgãos de poder nas Câmaras Municipais que haviam sido nomeados são então substituídos.
Nomeiam-se Comissões Administrativas, que vigoraram até às primeiras eleições em 1976.
Realizadas as primeiras eleições autárquicas verdadeiramente democráticas da história contemporânea portuguesa, encontra-se o país preparado para iniciar uma nova perspectiva de Poder Local.
O concelho de Vila Nova de Poiares acompanha essas mudanças, que são manifestamente notórias.
No entanto a Revolução dos Cravos não se assumiu apenas como um marco ao nível político, na verdade este momento histórico foi o abrir de um livro em branco no qual um novo futuro viria a ser escrito.
Esta viragem política trouxe as mais variadas alterações a um país ansioso por progredir.
Também o concelho de Vila Nova de Poiares começaria um novo futuro entrando num período de desenvolvimento sem precedentes na sua história.
Com as primeiras eleições verdadeiramente democráticas de 1976 é eleito para a presidência da Câmara Municipal, Jaime Carlos Marta Soares, anterior membro da Comissão Administrativa. Toma posse em Janeiro de 1977.
Estudar, comentar e divulgar a História de uma terra, construindo Identidades e Memórias, por mais pequeno que seja o seu espaço é sempre insuficiente perante a realidade e o seu todo.
Aqui só pode ficar um véu do que é na realidade a História de um espaço, de um território, de um concelho.
O Poiares que hoje todos podemos observar e constatar, é caracterizado pela modernidade, apresentando uma importância inequívoca ao nível regional e nacional.
Muito obrigado pela vossa atenção.
(Pedro Carvalho Santos)

Apresentação no âmbito da POIARTES
VIII GRANDE CAPÍTULO DA CONFRARIA DA CHANFANA