Prémios Agricolas / Ensino
Prémios Agrícolas – IX
Uma vez abordado o sector Industrial e o sector Comercial, resta-nos observar aspectos relativos ao sector Agrícola no concelho de Vila Nova de Poiares.
Como é conhecimento de todos, a agricultura terá sido uma das primeiras actividades que se desenvolveram no território deste concelho. Inicialmente, tal como em outros lugares, a actividade agrícola assumiu um carácter de subsistência, os agricultores produziam apenas para consumo da família. Numa economia de subsistência produzem-se os mais variados tipos de produtos, por forma a satisfazer todas as necessidades da família. Durante muito tempo os agricultores do nosso concelho tiveram apenas este objectivo. Começam, no entanto a surgir excedentes de produção, o que sobrava o agricultor trocava por outros produtos, particularmente pelos que não produzia ou que necessitava, como roupas, calçado, entre outros. Mais tarde esta troca directa deixa de ter qualquer significado, passando a assumir importância o dinheiro, despoletavam-se assim as trocas comerciais.
Geograficamente localizado numa depressão, poderíamos imaginar nos finais do século XIX, inícios do século XX, um concelho eminentemente agrícola, onde dominavam as pequenas explorações agrícolas, tão características do sistema de minifúndio que desde sempre vigorou no Norte e Centro de Portugal. Pequenas explorações das quais os agricultores os mais variados produtos, desde os cereais, ao vinho ou ao azeite. Procurámos saber que imagem os autores da época nos transmitem de Poiares enquanto concelho agrícola.
Na sua obra, «Portugal Antigo e Moderno», Pinho Leal, informa-nos que o concelho de Poiares tem o solo de calcário, abundando as argilas amarelas que a pouca profundidade daí que a produtividade fosse baixa, para o que também contribuem as baixas temperaturas que aí se registavam. Opina ainda sobre a produção vinícola, alegando a má qualidade do vinho, chegando a classifica-lo mesmo como ordinário. Não podemos deixar de considerar esta visão como bastante pessimista, na verdade não seria bem assim, particularmente no caso do vinho.
Não nos podemos esquecer que Poiares se desenvolve como concelho apenas no século XIX. Com uma infância acelerada, o comércio terá assumido o papel de maior destaque nesse desenvolvimento, no entanto não podemos deixar de valorizar o peso do sector agrícola nesse desenvolvimento. Esta actividade provavelmente não terá tido repercussões nos concelhos limítrofes ou outros mais longínquos, mas não podemos deixar de lhe atribuir um papel importante ao nível da subsistência dos agricultores e do mercado local. Se é esta a visão que podemos ter da actividade agrícola no século XIX, no século XX, a política do Estado Novo vem novamente valorizar esta actividade, pregando o cultivo de todos os pedaços de terra fértil do nosso país. Frutas e legumes, batatas, cebolas e tomates são alguns dos produtos da terra que se comercializavam na feira de Poiares. Se é verdade que alguns dos agricultores vinham de outros concelhos, na sua maioria eram Poiarenses que vendiam o fruto do cultivo da sua terra.
Em 1956 durante o regime de Salazar, foi entregue á Câmara de Poiares uma Menção Honrosa por esta ter enviado duas paliteiras, afim de representarem o concelho na “Exposição Agrícola” para a inauguração do novo Edifício do Palácio de Cristal, na cidade do Porto.
No entanto retomando a questão vinícola, e pelos estudos que temos feito sobre o concelho iremos reflectir sobre este sector, principalmente após termos tomado conhecimento de um certificado internacional atribuído a Poiares no século XIX.
Discordando da opinião de Pinho Leal, estamos em crer que o vinho do nosso concelho não seria nem de má qualidade, nem ordinário, muito pelo contrário. A 27 de Setembro de 1876, numa Exibição Internacional de Vinhos, na cidade de Philadelphia, nos Estados Unidos da América, Poiares é distinguido com um certificado de qualidade.
Por curiosidade que pode despertar ao nosso leitor, acrescentamos que o vinho premiado naquela exposição pertencia á adega do Sr. Joaquim Ferreira de Matos, pai do ilustre poiarense, Doutor Daniel de Matos. Esta colheita era originária duma propriedade designada de Eirado Novo.
Na verdade sabemos que as casas mais abastadas do concelho possuíam adegas, algumas de grande dimensão, poderíamos até considerá-las, face à realidade da época, como verdadeiras «Indústrias do Vinho». Casos conhecidos são as adegas da Quinta do Torrel, da Quinta do Camilo (conhecida também por Quinta da Senhora das Necessidades e Quinta da Machada), da Quinta da Beócia ou da Casa dos Moinhos, bem como outras de maior ou menor dimensão que se distribuíam pelo concelho.
Não nos parece que o vinho produzido nestas adegas não fosse de qualidade. Parece-nos sim que não terá havido mais sucesso fruto das mais diversas circunstâncias, nomeadamente devidos às frequentes ausências dos proprietário que se viam na necessidade de entregarem o cuidado das suas explorações a rendeiros. Por outro lado, alguns proprietários agrícolas exerciam outras actividades que lhes ocupavam grande parte do seu tempo, bem como implicavam muitos investimentos, o que colocava a agricultura em segundo plano. A recente povoação do espaço e a tardia administração do concelho, com os seus vários suprimentos, provavelmente não contribuiu para que existisse mais tradição vinícola no nosso concelho.
Poiares hoje não é concelho de região demarcada de vinhos mas é limítrofe dum desses concelhos da Região Demarcada do Dão, a saber Arganil.
Mensagem aos leitores:
A todos os nossos leitores e em especial aos das Crónicas de História Local, uma quadra Natalícia cheia de Paz, Amor e muita Luz, um Ano Novo muito próspero, com saúde e grande felicidade, com Deus Nosso Senhor a guiar-nos e a ajudar-nos.
Foto 1 :
Certificação de Prémio Vinícola na Exibição Internacional em “Philadelphia” nos Estados Unidos da América em 1876. Arquivo da C.M.P.
Foto 2 :
Diploma de “Menção Honrosa” à Câmara Municipal de V. N. de Poiares na Exposição Agrícola de 1956. Arquivo da C.M.P.
As Primeiras Décadas de Ensino no Concelho – X
A educação, tal como a conhecemos hoje, é um direito que assiste a todos os cidadãos, no entanto nem sempre foi assim. Durante muitos séculos o ensino era um luxo a que só alguns tinham acesso.
Desde a constituição do concelho de Poiares, em 1836, até inícios do século XX, em diversos pontos do concelho, o ensino processou-se em casas particulares. Casas essas que eram convertidas para dar aulas e muitas vezes o professor era o próprio dono da casa. Trata-se de uma situação frequente em todo o país, especialmente nos concelhos mais pobres do interior. Durante a Monarquia e a 1.ª Republica o cenário não sofreu grandes alterações. Só o Estado Novo vem alterar esta situação através de planos para a erradicação da enorme taxa de analfabetismo que então se fazia sentir.
Na época o ensino centrava-se nas mãos dos clérigos. Mesmo antes da constituição de Poiares como concelho, existiam já inúmeros Padres que muito contribuíram para o ensino das letras a jovens que enveredariam pelo caminho da religião, bem como às crianças do nosso concelho. Podemos salientar o ensino na casa da Abraveia, pertença do Padre José Vicente Gomes de Moura, ou ainda nos Seminários que existiram neste concelho.
Num período em que, a nível nacional, era distribuído um subsídio advindo do grande legado do benemérito, Joaquim Ferreira dos Santos, o concelho de Poiares procura também aceder à mais conhecida obra deste benemérito, as Escolas «Conde Ferreira». Assim, Poiares teve uma das 120 Escolas que foram custeadas por este benemérito, a qual se situava junto aos Paços Municipais. Para satisfazer a eventual curiosidade do nosso leitor, podemos salientar que este tipo de atitudes filantrópicas eram comuns no século XIX. Em consequência dos seus actos de beneficência e serviços prestados à causa constitucional, foi concedido a Joaquim Ferreira dos Santos o título de Barão em 1842, de Visconde em 1843 e Conde em 1850.
Os Paços Municipais foram outro dos espaços onde funcionou durante várias décadas uma escola masculina e uma feminina, curiosamente poucas escolas existiam do sexo feminino.
Em 1894, antes do segundo suprimento do concelho, a Câmara insiste com o testamenteiro do legado de Monsenhor Mattos para que se realizasse o seu desejo de construir uma escola primária em São Miguel, sendo que a sua livraria seria deixada para a mesma escola.
Neste mesmo ano em Santa Maria da Arrifana a escola do sexo masculino ocupava parte da casa do padre. No entanto, as condições para leccionar eram bastantes difíceis, nomeadamente pelo facto de chover dentro da escola, prejudicando a saúde do professor e dos alunos, bem como a falta de condições higiénicas. Assim o professor solicitava à Câmara melhorias a este nível, pedia também para que lhe fossem processados as folhas das rendas da casa de residência do ano de 1893 e 1894.
Na verdade, o ensino dos mais novos era precário e de difícil acesso. Não que o próprio Estado não orientasse os Governos Civis e estes as Câmaras no sentido de algum sucesso da aprendizagem das primeiras letras, mas vivia-se num país fortemente analfabeto. As escolas fechavam durante meses pelos mais variados pretextos, como sucedeu no nosso concelho em 1898, depois de Poiares ter sido restaurado definitivamente, quando que a escola de “sede nésta Villa ... se encontrava fechada ... a bastantes mezes”.
Em 1931, encontrava-se em execução o processo de expropriação do terreno onde se encontrava a escola da Vila, no sítio do Barreiro, no entanto o mesmo terá sido doado. Depois de o ensino ter funcionado em casas particulares, na escola Conde Ferreira e nos Paços do Concelho, iniciavam-se, sob a tutela do Estado Novo, os planos de combate à analfabetização em Portugal. A Escola de Poiares foi uma das que beneficiou do Plano dos Centenários. Esta designação foi dada a inúmeras escolas feitas durante o regime de Salazar, para definir as construções escolares dentro deste plano de construções.
Neste mesmo ano é concluída a escola de Vale do Gueiro, estando apenas à espera de ser equipada e de entrar em funcionamento. Elementos que compõem a Câmara da altura reúnem-se em Coimbra afim de obterem autorização para serem criadas as escolas de Abraveia, Vila Chã e Venda Nova. Em 1937 é solicitada a interferência do Governador Civil para a construção da Escola na sede de Freguesia de Santa Maria. Em 1938, no dia um do mês de Dezembro comemorava-se o feriado com um programa escolar e desfile de todas as crianças das escolas, é o que nos mostra a figura, na qual também podemos ver o quão diferente era a Vila de Poiares.
Nos anos ’30 foi grande o fomento de construções escolares em Portugal. Durante esta década assistimos ainda à ordenação de que todas as salas de aula deveriam possuir os retratos do Presidente da República, do Presidente do Concelho e uma Imagem de Cristo, como concerteza alguns dos nossos leitores tão bem se lembram. Era o pensamento que pretendia unir o país, a trilogia do Estado Novo.
Até ao final do regime foram criadas escolas em todas as sedes de freguesias de Poiares e nos maiores lugares do concelho, todas estas em edifícios próprios.
Hoje e nos últimos anos a temática do ensino tem sido analisada numa outra óptica, pelo que não iremos desta vez abordar esta questão, mas numa próxima oportunidade.
Foto:
Comemorações do 1.º de Dezembro levadas a efeito em 1938 pela Câmara Municipal de Poiares, «Desfile das crianças das escolas». Arquivo da C.M.P.
Uma vez abordado o sector Industrial e o sector Comercial, resta-nos observar aspectos relativos ao sector Agrícola no concelho de Vila Nova de Poiares.
Como é conhecimento de todos, a agricultura terá sido uma das primeiras actividades que se desenvolveram no território deste concelho. Inicialmente, tal como em outros lugares, a actividade agrícola assumiu um carácter de subsistência, os agricultores produziam apenas para consumo da família. Numa economia de subsistência produzem-se os mais variados tipos de produtos, por forma a satisfazer todas as necessidades da família. Durante muito tempo os agricultores do nosso concelho tiveram apenas este objectivo. Começam, no entanto a surgir excedentes de produção, o que sobrava o agricultor trocava por outros produtos, particularmente pelos que não produzia ou que necessitava, como roupas, calçado, entre outros. Mais tarde esta troca directa deixa de ter qualquer significado, passando a assumir importância o dinheiro, despoletavam-se assim as trocas comerciais.
Geograficamente localizado numa depressão, poderíamos imaginar nos finais do século XIX, inícios do século XX, um concelho eminentemente agrícola, onde dominavam as pequenas explorações agrícolas, tão características do sistema de minifúndio que desde sempre vigorou no Norte e Centro de Portugal. Pequenas explorações das quais os agricultores os mais variados produtos, desde os cereais, ao vinho ou ao azeite. Procurámos saber que imagem os autores da época nos transmitem de Poiares enquanto concelho agrícola.
Na sua obra, «Portugal Antigo e Moderno», Pinho Leal, informa-nos que o concelho de Poiares tem o solo de calcário, abundando as argilas amarelas que a pouca profundidade daí que a produtividade fosse baixa, para o que também contribuem as baixas temperaturas que aí se registavam. Opina ainda sobre a produção vinícola, alegando a má qualidade do vinho, chegando a classifica-lo mesmo como ordinário. Não podemos deixar de considerar esta visão como bastante pessimista, na verdade não seria bem assim, particularmente no caso do vinho.
Não nos podemos esquecer que Poiares se desenvolve como concelho apenas no século XIX. Com uma infância acelerada, o comércio terá assumido o papel de maior destaque nesse desenvolvimento, no entanto não podemos deixar de valorizar o peso do sector agrícola nesse desenvolvimento. Esta actividade provavelmente não terá tido repercussões nos concelhos limítrofes ou outros mais longínquos, mas não podemos deixar de lhe atribuir um papel importante ao nível da subsistência dos agricultores e do mercado local. Se é esta a visão que podemos ter da actividade agrícola no século XIX, no século XX, a política do Estado Novo vem novamente valorizar esta actividade, pregando o cultivo de todos os pedaços de terra fértil do nosso país. Frutas e legumes, batatas, cebolas e tomates são alguns dos produtos da terra que se comercializavam na feira de Poiares. Se é verdade que alguns dos agricultores vinham de outros concelhos, na sua maioria eram Poiarenses que vendiam o fruto do cultivo da sua terra.
Em 1956 durante o regime de Salazar, foi entregue á Câmara de Poiares uma Menção Honrosa por esta ter enviado duas paliteiras, afim de representarem o concelho na “Exposição Agrícola” para a inauguração do novo Edifício do Palácio de Cristal, na cidade do Porto.
No entanto retomando a questão vinícola, e pelos estudos que temos feito sobre o concelho iremos reflectir sobre este sector, principalmente após termos tomado conhecimento de um certificado internacional atribuído a Poiares no século XIX.
Discordando da opinião de Pinho Leal, estamos em crer que o vinho do nosso concelho não seria nem de má qualidade, nem ordinário, muito pelo contrário. A 27 de Setembro de 1876, numa Exibição Internacional de Vinhos, na cidade de Philadelphia, nos Estados Unidos da América, Poiares é distinguido com um certificado de qualidade.
Por curiosidade que pode despertar ao nosso leitor, acrescentamos que o vinho premiado naquela exposição pertencia á adega do Sr. Joaquim Ferreira de Matos, pai do ilustre poiarense, Doutor Daniel de Matos. Esta colheita era originária duma propriedade designada de Eirado Novo.
Na verdade sabemos que as casas mais abastadas do concelho possuíam adegas, algumas de grande dimensão, poderíamos até considerá-las, face à realidade da época, como verdadeiras «Indústrias do Vinho». Casos conhecidos são as adegas da Quinta do Torrel, da Quinta do Camilo (conhecida também por Quinta da Senhora das Necessidades e Quinta da Machada), da Quinta da Beócia ou da Casa dos Moinhos, bem como outras de maior ou menor dimensão que se distribuíam pelo concelho.
Não nos parece que o vinho produzido nestas adegas não fosse de qualidade. Parece-nos sim que não terá havido mais sucesso fruto das mais diversas circunstâncias, nomeadamente devidos às frequentes ausências dos proprietário que se viam na necessidade de entregarem o cuidado das suas explorações a rendeiros. Por outro lado, alguns proprietários agrícolas exerciam outras actividades que lhes ocupavam grande parte do seu tempo, bem como implicavam muitos investimentos, o que colocava a agricultura em segundo plano. A recente povoação do espaço e a tardia administração do concelho, com os seus vários suprimentos, provavelmente não contribuiu para que existisse mais tradição vinícola no nosso concelho.
Poiares hoje não é concelho de região demarcada de vinhos mas é limítrofe dum desses concelhos da Região Demarcada do Dão, a saber Arganil.
Mensagem aos leitores:
A todos os nossos leitores e em especial aos das Crónicas de História Local, uma quadra Natalícia cheia de Paz, Amor e muita Luz, um Ano Novo muito próspero, com saúde e grande felicidade, com Deus Nosso Senhor a guiar-nos e a ajudar-nos.
Foto 1 :
Certificação de Prémio Vinícola na Exibição Internacional em “Philadelphia” nos Estados Unidos da América em 1876. Arquivo da C.M.P.
Foto 2 :
Diploma de “Menção Honrosa” à Câmara Municipal de V. N. de Poiares na Exposição Agrícola de 1956. Arquivo da C.M.P.
As Primeiras Décadas de Ensino no Concelho – X
A educação, tal como a conhecemos hoje, é um direito que assiste a todos os cidadãos, no entanto nem sempre foi assim. Durante muitos séculos o ensino era um luxo a que só alguns tinham acesso.
Desde a constituição do concelho de Poiares, em 1836, até inícios do século XX, em diversos pontos do concelho, o ensino processou-se em casas particulares. Casas essas que eram convertidas para dar aulas e muitas vezes o professor era o próprio dono da casa. Trata-se de uma situação frequente em todo o país, especialmente nos concelhos mais pobres do interior. Durante a Monarquia e a 1.ª Republica o cenário não sofreu grandes alterações. Só o Estado Novo vem alterar esta situação através de planos para a erradicação da enorme taxa de analfabetismo que então se fazia sentir.
Na época o ensino centrava-se nas mãos dos clérigos. Mesmo antes da constituição de Poiares como concelho, existiam já inúmeros Padres que muito contribuíram para o ensino das letras a jovens que enveredariam pelo caminho da religião, bem como às crianças do nosso concelho. Podemos salientar o ensino na casa da Abraveia, pertença do Padre José Vicente Gomes de Moura, ou ainda nos Seminários que existiram neste concelho.
Num período em que, a nível nacional, era distribuído um subsídio advindo do grande legado do benemérito, Joaquim Ferreira dos Santos, o concelho de Poiares procura também aceder à mais conhecida obra deste benemérito, as Escolas «Conde Ferreira». Assim, Poiares teve uma das 120 Escolas que foram custeadas por este benemérito, a qual se situava junto aos Paços Municipais. Para satisfazer a eventual curiosidade do nosso leitor, podemos salientar que este tipo de atitudes filantrópicas eram comuns no século XIX. Em consequência dos seus actos de beneficência e serviços prestados à causa constitucional, foi concedido a Joaquim Ferreira dos Santos o título de Barão em 1842, de Visconde em 1843 e Conde em 1850.
Os Paços Municipais foram outro dos espaços onde funcionou durante várias décadas uma escola masculina e uma feminina, curiosamente poucas escolas existiam do sexo feminino.
Em 1894, antes do segundo suprimento do concelho, a Câmara insiste com o testamenteiro do legado de Monsenhor Mattos para que se realizasse o seu desejo de construir uma escola primária em São Miguel, sendo que a sua livraria seria deixada para a mesma escola.
Neste mesmo ano em Santa Maria da Arrifana a escola do sexo masculino ocupava parte da casa do padre. No entanto, as condições para leccionar eram bastantes difíceis, nomeadamente pelo facto de chover dentro da escola, prejudicando a saúde do professor e dos alunos, bem como a falta de condições higiénicas. Assim o professor solicitava à Câmara melhorias a este nível, pedia também para que lhe fossem processados as folhas das rendas da casa de residência do ano de 1893 e 1894.
Na verdade, o ensino dos mais novos era precário e de difícil acesso. Não que o próprio Estado não orientasse os Governos Civis e estes as Câmaras no sentido de algum sucesso da aprendizagem das primeiras letras, mas vivia-se num país fortemente analfabeto. As escolas fechavam durante meses pelos mais variados pretextos, como sucedeu no nosso concelho em 1898, depois de Poiares ter sido restaurado definitivamente, quando que a escola de “sede nésta Villa ... se encontrava fechada ... a bastantes mezes”.
Em 1931, encontrava-se em execução o processo de expropriação do terreno onde se encontrava a escola da Vila, no sítio do Barreiro, no entanto o mesmo terá sido doado. Depois de o ensino ter funcionado em casas particulares, na escola Conde Ferreira e nos Paços do Concelho, iniciavam-se, sob a tutela do Estado Novo, os planos de combate à analfabetização em Portugal. A Escola de Poiares foi uma das que beneficiou do Plano dos Centenários. Esta designação foi dada a inúmeras escolas feitas durante o regime de Salazar, para definir as construções escolares dentro deste plano de construções.
Neste mesmo ano é concluída a escola de Vale do Gueiro, estando apenas à espera de ser equipada e de entrar em funcionamento. Elementos que compõem a Câmara da altura reúnem-se em Coimbra afim de obterem autorização para serem criadas as escolas de Abraveia, Vila Chã e Venda Nova. Em 1937 é solicitada a interferência do Governador Civil para a construção da Escola na sede de Freguesia de Santa Maria. Em 1938, no dia um do mês de Dezembro comemorava-se o feriado com um programa escolar e desfile de todas as crianças das escolas, é o que nos mostra a figura, na qual também podemos ver o quão diferente era a Vila de Poiares.
Nos anos ’30 foi grande o fomento de construções escolares em Portugal. Durante esta década assistimos ainda à ordenação de que todas as salas de aula deveriam possuir os retratos do Presidente da República, do Presidente do Concelho e uma Imagem de Cristo, como concerteza alguns dos nossos leitores tão bem se lembram. Era o pensamento que pretendia unir o país, a trilogia do Estado Novo.
Até ao final do regime foram criadas escolas em todas as sedes de freguesias de Poiares e nos maiores lugares do concelho, todas estas em edifícios próprios.
Hoje e nos últimos anos a temática do ensino tem sido analisada numa outra óptica, pelo que não iremos desta vez abordar esta questão, mas numa próxima oportunidade.
Foto:
Comemorações do 1.º de Dezembro levadas a efeito em 1938 pela Câmara Municipal de Poiares, «Desfile das crianças das escolas». Arquivo da C.M.P.
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