Contributos para a História da minha Terra.
Contributos para a História da minha Terra.
O concelho de Santo André de Poyares, nasceu em 1836. Nasceu por Decreto em Dezembro desse mesmo ano. A primeira “Câmara” reuniu-se em Janeiro de 1837. Em 1855 foram suprimidas terras desse concelho.
Foi extinto por Decreto em Dezembro de 1866. No mês seguinte, Janeiro de 1867 foi restaurado com a influencia do Dr. José Dias Ferreira de Pombeiro, amigo do Concelho. Conforme os jogos de poder do século XIX foi novamente extinto em 1895 (Ditadura de João Franco), para a 13 de Janeiro de 1898 ser restaurado em definitivo.
Poiares tem a particularidade de não ter “casco velho”! Ou seja Poiares, como Vila não tem um centro Histórico definido, com antigas Casas de Câmara, Pelourinho, Celeiro e todos os Edificios que caracterizam os Concelhos do Antigo Regime. Também não tem Foral Régio, nem Afonsino nem Manuelino.
Poiares, hoje apelida-se de Vila Nova de Poiares, mas, ... sem ter Vila velha! É uma Vila Nova sem “Casco Velho”.
Três rios delimitam aproximadamente o concelho: Mondego, Ceira e Alva. No passado estas fronteiras concelhias eram mais notórias na zona de Segade por exemplo e em Friúmes.
Em 1905 o rei D. Carlos atribui o titulo de Vila a Poiares, atitude esperada e normal. Poiares Santo André é assim a única Freguesia a ostentar o Titulo de Vila. São Miguel de Poiares e mesmo Arrifana poderiam também usufruir desse titulo, sendo que penso nunca ter havido “movimento” ou iniciativa que promovesse tal pretensão. São Miguel de Poiares pela antiguidade, do tempo das rendas à Universidade de Coimbra e atestando o seu lugar estratégico, em termos de rodovias por exemplo além de nas últimas décadas ter tido forte desenvolvimento Industrial. Arrifana tem uma história que sobressai e quanto a mim até seria esta povoação que deveria ostentar o titulo de Vila em virtude do seu rico passado. Aqui existiam vestígios reais, de Casas de Câmara, Celeiro e Adega, não sebendo se não teria existido administração de justiça. Ao que sempre pude constatar esta advinha do concelho de Coimbra através de um Juiz de Fora, mas poderá a dado momento ter tido Justiça própria. Fica-me a dúvida.
As vias de comunicação que já comentei várias vezes eram deveras importantes e terá sido factor crucial de desenvolvimento destas terras de Monteiros Mores.
Gentes de Poiares, gentes de labuta e laboriosas, trabalharam a terra, araram os campos, praticaram comercio e fizeram alguma industria, como o azeite, a cera, as mós e tantos outras.
«O povo deste concelho é, no geral, muito laborioso e, além da cultura da terra, a que se entrega com afã emprega-se em vários ramos de comércio e industria, sendo o principal azeite e fabrico e exportação de cara branca e amarela». Pinho Leal (século XIX).
O Dr. Antonino Henriques, professor, figura do concelho, que se debruçou sobre diversos assuntos culturais, escreveu ditos populares; ao “nascer um homem, nascia um pau e um saco”, nomeadamente na povoação da Risca Silva.
Recolha de papel, ferro velho e metais, comercio de gado e diversos objetos de quem não possuía «os cabedais» necessários para negócios de «monta».
Poiares possui património religioso, como é comum no nosso país. Possui motivos que o diferenciam na Região onde se insere. As cantarias vermelhas, Esculturas nesta pedra, a Igreja de São Miguel de Poiares, os altares mores alusivos à Donatária, a Universidade de Coimbra, património móvel, como cálices, custódias assim como ricas cruzes processional, caso da de São Miguel de Poiares.
De Santa Maria temos apreço do altar mor, peça de grande categoria em talha dourada de inicio do reinado de D. João V (aqui possui o brasão central partido com armas de Portugal e da Universidade).
É incontornável, estar a ter estes “pensamentos pensados, falados e escritos” sem mencionar o artesanato. Poiares como tantos concelhos do país é um concelho rico em artesanato. Não podemos no entanto falar em grande desenvolvimento e inovação do seu artesanato. Na realidade nos últimos anos não houve, salvo algumas iniciativas de IPSS do concelho, uma verdadeira “escola continua e de formação de artesãos”. Também não se deslumbram iniciativas que se comparem com outros concelhos onde surgem verdadeiras formações e escola deste tipo de actividade. Lousã, Miranda do Corvo, Santa Comba Dão, Penacova, Tondela, para não enumerar muitos mais concelhos que tem “feito obra” dinamizando e perpetuando “estes saberes fazer”, apostando nesta área! Criaram inclusive Associações Culturais vocacionadas exclusivamente para essa área do património. No entanto e ao nível de alguma promoção artesanal, penso que existiram trabalhos efectuados e que têm tido algum relevo e expressão ao nível, Local e Nacional, caso das Feiras Locais, Regionais e Nacionais, assim como nos diversos meios de Comunicação Social.
O Artesanato seria assim realmente a aposta certa, apesar que já tardia, dando-lhe o relevo que ele pede e a inovação que se impõem. Falta Coordenação, apoios Financeiros e Logísticos.
A principal riqueza cultural de Poiares, assenta assim neste “produto”, o Artesanato que, associando e complementado com a inevitável Gastronomia, pelo esforço promocional desta nos últimos anos devem ter o papel de destaque imperativo que o concelho necessita para a sua maior afirmação de raízes e da sua própria Identidade. (note o nosso leitor que o concelho não possui outros legados, nomeadamente físicos e arquitectónicos, pelo que, como a História não se pode inventar ou alterar, à que dar ênfase verdadeiramente ao que se tem, enaltecendo o “produto cultural” que se justifica e transforma-lo em mais valia cultural e até económica)
O Dr. Antonino Henriques, proferiu e escreveu por diversas vezes (nos anos ’80)/ Ver O Poiarense – Setembro de 1988 por exemplo) da necessidade de Construir a Casa Cultural de Poiares e outras diversas Infra-estruturas, que passados 25 anos, ou seja um quarto de século passado ainda não possuem unidade orgânica e funcional, continuando assim, numa altura em que o país possui já uma manta cultural significativa, num estado “avulso” e de “vontades”.
Barros Pretos, agora certificados devido principalmente à promoção da Chanfana, cestaria, artefactos de madeira em salgueiro branco, os palitos em flor e de pestana, canastrarias, mantas e tapetes de trapos, latoaria, as mós, artefactos de ferro, trabalhos de ceiras e capachos e tantos outros que sabemos não possuírem escola e continuidade sustentada. Faltam apoios, porque acredito porventura que projectos apareceriam. Note-se o trabalho em pedra vermelha, das mós como decoração, como artigo de restauro, caso das mós vendidas para o Palácio de Queluz, como cantarias para a construção civil, restauro (caso fosse impulsionado, coisa que não é) numa óptica de uma leitura Cultural e Patrimonial no futuro do concelho. Sempre haverá no entanto pontos discordantes e leituras diferentes das matérias, mas talvez inteirando-se o leitor do trabalho de Molelos ou Bizalhães para dar dois exemplos se entenda melhor como dinamizar este e outros sectores.
A Capela de Nossa Senhora das Necessidades simboliza a Padroeira do Concelho.
“Virgem das Necessidades,
Dizei-me, onde andais?
Moro ao pé da Risca Silva,
No meio dos pinheirais”
Hoje fruto da expansão da Vila sede de concelho para Nascente e Sul já não se nota pinheirais ou grandes zonas florestais.
Hoje as realidades são diferentes e não existem os Romeiros, a pé que existiam em outros tempos. Outros Romeiros existem, vem de automóvel por exemplo. O sentido de piquenique de degustar em cima de uma talha de trapos, esvaiu-se no tempo. À décadas eram inúmeros Romeiros que vinham das Beiras em busca de uma das maiores Romarias do Distrito de Coimbra. Vinham em alegres Ranchos, em carros de bois decorados e enfeitados com verduras que depois de “cantarolarem” e dançarem faziam quadras a Nossa Senhora:
“Senhora das Necessidades,
Mandai tira-la da areia,
Que lhe entra nos sapatos
Pelos buracos das meias.”
Pedro Carvalho Santos
Beira/MZ
Nota: Recordo uma figura que vinha todos os anos a casa dos meus avós. Quem é perguntei certo ano? A minha avó respondeu que era um senhor que vinha da “Beira” todos os anos à Festa, o homem lá sentava nos bancos à saida da casa e “piquenicava” havendo sempre um prato de sopa ou conduto”. Mal sabia eu com uns 7 ou 8 anos que estava perante um Romeiro da Beira/ Oliveira do Hospital, Tábua, Midões.
Era comum ainda no final dos anos ’70 e inicio dos ’80, nas traseiras da Capela muitas familias saborearem comidas Beirãs, sobre toalhas no chão, havendo algumas que catarolavam e tocavam vários instrumentos de corda. Recordações de um tempo que foi, ...
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