Contando Lendas - Almeida
Corria o ano de 2003 quando criamos "Lenda da Chanfana", com os referidos nomes de personagens, lugares do concelho, enquadramento histórico e outros Saberes, foi-me pedido por quem na altura esteve envolvido neste processo, se não conseguiria fazer uma Lenda para Almeida afim de ser presente a esse Município. Não sei se alguma vez chegou a ser presente ao Município de Almeida, mas nós fizemos esses textos à semelhança do que tínhamos feito para Vila Nova de Poiares sobre a Lenda da Chanfana. É essa Lenda que hoje vos trazemos, pois não teria sentido ficar no nosso Arquivo ao fim de 15 anos.
Estrutura Geral
Titulo proposto: “Histórias e Lendas de Almeida”
(Cerca de 5 Páginas
de Texto)
Altura Temporal: Finais do Século XIX.
Publico alvo: Crianças e Jovens (mais os
adultos)
Previsão de conteúdos para cerca de 36 a 40 Páginas de BD
Criação de 3 Cx de Diálogo
Personagens Fictícias:
Na Fortificação (História)
João (que está junto à
muralha/ fala sobre a História da Fortaleza)
Luís (que vai à Botica do
Senhor Gastão)
Maria (que vai à Feira falar
com o Augusto)
Feira (Tradições)
Augusto (negociante de gado)
Manuel (marido da Maria)
José (que quer 2 borregos
para a Páscoa)
Lenda de Nossa Senhora das Neves (Lenda)
Joaquim (ajuda no diálogo)
Cacilda (ajuda no diálogo)
Adelino (ajuda no diálogo)
Marta (ajuda no diálogo)
Mateus (ajuda no diálogo)
“Gaiato” (interpela a Maria
das Dores)
Maria das Dores (Anciã que
narra a Lenda de Nossa Senhora das Neves)
Observações (Baseado na História
de Almeida):
- Cunha, Telmo Gastão de Jesus, Almeida, estrela de memórias, Associação dos amigos de Almeida, Marques & Pereira, Lda, Guarda, 1999.
- Cunha, Telmo Gastão de Jesus, Almeida, estrela de memórias, Associação dos amigos de Almeida, Marques & Pereira, Lda, Guarda, 1999.
- Fortaleza de Almeida. In Infopédia
[Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-10-19].
Inicio
(Narração inicial junto à Muralha)
“Ti João”, sentado num tronco de árvore, observava as
Muralhas de pedra que tinham atravessado os séculos e pensava muito cismado!
(balão de pensamento)
Muitos séculos se passaram
desde que o Castelo primitivo de Almeida foi construído. Ideia antiga, obra de
árabes, “moiros”, pois, ... desses sarracenos do Sul.
(caixa narrativa)
A Fortaleza Raiana de
Almeida foi conquistada em 1039 pelo exército de Fernando Magno. Mas muitos disputaram
este ponto estratégico - Leoneses, Portugueses e outros povos.
(inicio do diálogo)
- Então “Ti João”? Bom dia! -
perguntou a “Ti Maria”, que ao passar, se chegava junto dele. (levava um fardo
de palha à cabeça) - A pensar na “morte da Bezerra”?
- Não “Ti Maria”, estava
aqui a pensar em muitas coisas, num turbilhão de pensamentos! De tudo um pouco.
De quando estas pedras foram aprumadas, da vitória do Senhor Paio Guterres, ...
sabe? O Almeidão, e de quando o nosso El – Rei D. Dinis, aquele que chamaram
de Lavrador, nos assegurou a nossa
querida Almeida e as Terras de Riba – Côa.
- Se sei! – Continuou a “Ti
Maria” - Também para mim estas Muralhas fazem parte do meu ser! Sabe umas vezes
aqui se ganhou outras se perdeu! Umas vezes Portugal, outras Castela e pronto!
- Então a vós dois muito bom
dia – disse o senhor Luís que se aproximava.
- Bom dia! – Disseram em
coro o “Ti João e a Ti Maria”.
- Senhor Luís ainda bem que
aqui passou – disse a “Ti Maria”.
- Pois olhe ia indo prá
Botica do Senhor Gastão – respondeu o senhor Luís – é que não dormi nada por
culpa dumas “maleitas” que me atormentaram.
- Pois olhe, falávamos da
muralha, de Almeida, de tudo! – disse a “Ti Maria”.
- Pois é..., a nossa terra,
... a nossa casa, onde brincamos e crescemos, a nossa vida!
Sabem? – disse o senhor
Luís.
(convém 1 ou 2 balões de
pensamento com cenas a ilustrar estes dois acontecimentos/ batalhas/ com os
estandartes da vitória)
- Quando estou perto da
muralha – continuou o senhor Luís - lembro-me da nossa História, de quando o
grande Mestre de Avis tomou esta Fortaleza ao partido de D.ª Beatriz e de
Castela na Crise de 1383-85.
- Pois, mas o pior foi há
alguns anos! – Falou o “Ti João” caindo-lhe uma lágrima - Quando, esses
Franceses, esses do Massena!... nos atingiram como se fossem punhais no nosso
coração, ... na nossa gloriosa Almeida!
(Caixa narrativa com as
respectivas ilustrações)
Todos se calaram, porque se lembravam
dessas explosões que tinham apagado quase tudo o que era Medieval e
Quinhentista. A monumentalidade que se vê desse sistema defensivo começou a ser
erguida após a Revolução de 1640.
(ilustrar com obras de
reconstrução, “estaleiro” de obras, por exemplo, placa com a data de 1641 e o
Governador de Beja, Álvaro Abranches com a planta na mão da Fortaleza e no
final de setecentos o Conde de Lippe)
- Pois! - disse o “Ti João”
- Temos de preservar estas construções e estas memórias. Nos séculos XVII e XVIII,
os resultados das batalhas nem sempre foram os melhores para Portugal, tendo
havido avanços e recuos!
- Mas a culpa nunca foi das
Muralhas, da Fortaleza e das “gentes” de Almeida, mas da indisciplina e da
desorganização de certos comandos que vieram – retorquiu o senhor Luís.
- Ora isso é certo – disse a
“Ti Maria” – Agora vão-me desculpar mas tenho de ir, porque ainda vou à Feira
falar com o “Ti Augusto” das ovelhas.
- Bem, eu também vou indo –
disse o senhor Luís – Vou à Botica buscar os meus comprimidos que já devem
estar prontos.
- Até mais logo “Ti João” - disseram
os dois.
(Ilustração da Feira de
Almeida - mostrar tendas e feirantes (finais do século XIX); os vendedores - pequena
caracterização com imagens da Feira, produtos; colocar a Muralha em pano de
fundo, assim como o antigo Convento mencionado pela Técnica da Autarquia –
vislumbrado ao longe)
(Caixa de Texto)
A Feira de Almeida é das
mais antigas da nossa nacionalidade, aqui se vendiam inúmeros produtos da terra
e da vizinhança. Comerciava-se produtos hortícolas, utensílios de barro,
cestos, assim como animais de capoeira, gado e mais bichos vários.
(A “Ti Maria” vai ter com o
“Ti Augusto das Ovelhas”)
- Então “Ti Augusto” como
vai a saúde? – perguntou a “Ti Maria”.
- “Ti Maria” cá vamos, com a
graça de Deus! – respondeu o “Ti Augusto”.
- O Manel tem andado com
umas maleitas, mas hoje anda lá p’rás terras com o gado, mas pergunta se lhe
compra uns cabritos de leite que lá tem. Que depois p’rá semana vem cá falar
consigo! – disse a “Ti Maria”.
- E quantos são? Lá p’ra
Oliveira do Hospital, na Beira, têm me pedido cabritos para a Páscoa! – disse o
“Ti Augusto”.
- Olhe, o Manel diz que uns
(balão de pensamento a contá-los 2 + 2 + 3)... p’ra ai uns 11 cabritos – disse
a “Ti Maria”.
(Chega o “Ti Zé”)
- Ó “Ti Maria” bom dia, fale
lá com o “Ti Manel” e veja se me arranja dois borregos para a Páscoa, que vem a
família da cidade – disse o “Ti Zé”.
- Falarei, e p’rá semana
fala com ele, que isso são coisas dele – disse a “Ti Maria”.
(Mostra da Feira, ou algum
acrescento à História)
(Ilustrações/ Parte
Narrativa do século XIX/ Caixa de Texto)
A Fortaleza de Almeida foi
ocupada em 1807 pelo exército francês comandado por Junot. Posteriormente Almeida
é libertada, mas em 1810 volta a sofrer novos ataques, Massena comanda a 3.ª
Invasão Francesa e bombardeia fortemente a fortaleza a 26 de Agosto. Tiros
certeiros atingem no interior um paiol de pólvora, o velho castelo medieval, a
Igreja Matriz, assim como parte das casas de Almeida, reduzindo tudo a escombros.
Arruinada a fortaleza, a resistência portuguesa quebra e rende-se a Massena.
Meses mais tarde, os
franceses retiram-se sem glória de Almeida, deixando um rasto de violência e
destruição.
(ilustrações/ imagens de
Guerra, em sequência rápida/ cenário junto à Igreja Matriz, sentados em bancos
de madeira os figurantes)
(caixa de texto)
“Ti Maria das Dores” era uma
anciã com 95 anos e lembrava-se bem desse dia! Tinha nessa altura apenas 10
anitos quando “pareceu que o mundo ia acabar”!
- Ó Jaquim e quando a
“Senhora” nos deu uma luz de milagre? – disse a “Ti Maria das Dores”.
- Eu lembro “Ti Maria” –
disse o Joaquim (pouco mais novo que ela e agarrado ao cajado) - E aqui o
Mateus também, não é Mateus?
- É pois sim senhora, apesar
que o meu irmão mais velho, que Deus tenha é que se lembrava bem, até ajudou a
fazer a fogueira - disse o Mateus.
A Marta atalhou dizendo.
- Tantas vezes que ouvi a
minha “Ti Cacilda” e o “Ti Adelino” contarem essa história. A “Ti Maria das
Dores” é que a sabe bem! Conte-nos a História mais uma vez “Ti Maria das Dores”
– disse a Marta.
- Tá bem, tá bem! E não me
canso de a contar.
(Lenda narrada pela “Ti
Maria das Dores”)
- Lembro-me como se fosse
hoje! Estava à porta de casa a bordar uns lençóis quando o chão tremeu, o sol
apagou-se e um barulho de deixar de ouvir se fez! Só via fumo e muitas explosões
ao mesmo tempo, … e também durante muito tempo. Tudo caía! Os homens gritavam,
as mulheres andavam dum lado para o outro, erguendo as mãos ao céu!… lembro-me…
do medo. Como ficou tudo destruído as pessoas ficaram sem coragem e tristes.
Sempre que passavam num sítio estava tudo caído
(ilustrar com ruínas/ ou
outras)
- Foram dias e meses de
agrura e desconsolo – disse a “Ti Maria das Dores” - Na Primavera seguinte, num
dia que não sei precisar ao certo, alguém falou em limpar tudo, começar a
queimar o que não prestava numa grande fogueira. O dia estava limpo e muito
bonito. O sol brilhava muito nessa manhã Primaveril. Todos estavam a arejar e a
limpar tudo, respirava-se ar puro e tranquilidade. Os restos que não prestavam
e traziam má recordação foram sendo queimados numa grande fogueira.
- E depois “Ti Maria das
Dores” - perguntou um pequeno “gaiato” que ali tinha chegado e ficado a ouvir a
história maravilhado.
- Já vou! Já vou! - disse a
“Ti Maria das Dores”.
- De repente, (fazer pausa
de suspense) … sem ninguém estar à espera… o sol fugiu, veio muito frio e muita
neve, gelando tudo e todos, apagando a fogueira por completo, deixando todos
sem fala, mudos e incrédulos – disse a “Ti Maria das Dores”.
- O irmão aqui do Mateus é
que de repente deu o alerta! – continuou a “Ti Maria das Dores” - No meio das
cinzas e borralhos, dos destroços queimados e em fumo, o Mateus viu a imagem de
Nossa Senhora que estivera no altar da Igreja Matriz. Quando todos olharam para
a imagem, de olhos claros e fixos, a imagem apareceu estar a questionar o
porquê daqueles actos, pois o seu lugar era no altar a velar pelos Almeidenses
e não naquela fornalha. Com todo o cuidado foi limpa e restaurada para ser colocada
novamente no Altar. A Imagem passou a ser uma mensagem de amor e de esperança
renovada dos Almeidenses que nunca mais se quiseram separar dela. A Vila de
Almeida e os Almeidenses passaram assim a estar intimamente ligados à sua Nossa
Senhora que fez nevar num dia de Primavera apelidando-a de Nossa Senhora das
Neves.
(Todos bateram palmas e
felizes levantaram-se para ir para as suas casas)
(a parte final, voltando ao
“Ti João” ao pé da Muralha)
(caixa de texto)
O “Ti João” continuava
sentado no tronco de árvore a pensar, a observar, cismado! Observava as muralhas
de pedra que o protegiam, que lhe davam conforto, com as quais tinha crescido e
sempre vivido! “Ti João” viu passar um rapazinho e uma menina, que brincavam. Passaram-se
séculos, muitas crianças por ali passaram, outros viriam em gerações futuras e
as Muralhas… estariam lá sempre, fortes e singulares, símbolo e orgulho dos
Almeidenses e de Portugal.
Fim
Texto de Pedro Carvalho Santos