aboreira scriptorium

É pretensão deste espaço, ser um depósito de ideias, tónica de pensamentos do seu autor, sobre a actualidade em geral e com especial incidência em várias Culturas, no Turismo, no Património e na Gastronomia, em Vila Nova de Poiares, na Região das Beiras/ Portugal e no Mundo. Pedro Carvalho Santos, pensou-o ... e o fez ...

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Localização: Vila Nova de Poiares, Coimbra, Portugal

Existo - creio no meu Deus.

terça-feira, abril 22, 2008

pedaços de histórias das minhas raízes – II



Talvez dos circuitos mais significativos da História de Poyares, sejam as estradas de Poiares (Vila) para a Venda Nova assim como a estrada de Poiares (Vila) para o Pinheiro e Abraveia, ... assim como também Póvoa da Abraveia, Algaça e Pereiros/ Santa Maria.
Bem, se acrescentar ainda Poiares (Vila) a São Miguel e Poiares (Vila) e a Vila Chã/ Forcado, pouco nos fica para contar. Claro que também à a do Carvalho e a ligação à Ponte Mucela. E a estrada das Ribas pois claro que era para ser a verdadeira estrada da Beira como o queriam as Câmaras de início do século.

Bem mas esta que vou comentar é uma estrada que me diz algo...
Uma estrada que de pequeno fiz várias vezes! A estrada da Catraia das Necessidades/ Risca – Silva/ Cabecinhos/ Segundeira e por vezes até aos Moinhos e Venda Nova.
Os meus Avós Paternos viviam atrás da Capela de nossa Senhora das Necessidades na Catraia das Necessidades. Tive um arraial enorme para brincar para apanhar pinhões nos pinheiros mansos que lá existiam, para ver os coelhos a saltitar por debaixo da Capela (ainda antes de terem feito o muro) e podia-se brincar sem medo!
A casa dos meus avós, hoje em ruína, possuía um traçado interessante na senda das construções beirãs! Um tipo de varanda que dava para o pátio fechado mais tarde marquise, tinha acesso por escada de pedra. Primeiro era a cozinha, depois um quarto que no inicio teria sido sala de jantar (possuía um janelo característico para passar comidas, depois uma pequena casa de banho que não existia primitivamente e por fim uma sala donde derivavam dois quartos e um terceiro que fora acrescentado. De pátio fechado, com lojas por baixo, tinha o espaço primitivo dos animais, da loja dos palanques das batatas e das arcas de cereais, e um pequeno quarto a que se juntava a adega. Já do lado de fora da casa mas a dar para o pátio na mesma a casa do forno e o celeiro, onde havia muita palha e animais. Este mais tarde foi transformado em área de negócio (quando de obras de adaptação, vivia um grande “cobrão” que lembro-me vagamente o dia que os homens fizeram de matança ao “bicho” e de o meu pai o levantar num pau enorme).
Os meus avós maternos viveram na Risca – Silva e tinham lá casa que foi comprada por a minha Tia Avó Alice. Tios avós desse lado da família tinha-os também na Venda Nova onde fui por várias vezes em casas mui antigas do tio Joaquim Rosa e da tia Altina (irmã da minha avó). Dos meus avós paternos, tinha os meus Tios Avós nos Cabecinhos e Segundeira, mas também na Risca – Silva, ai nesse lugar do lado do avô e do lado da avó.
Consigo-me lembrar ainda da última “venda”/ Taberna da Risca – Silva, onde existiam inúmeros copos muito grossos e “taças” onde se bebiam “os copos” e se viam os pipos. Com dificuldade ainda hoje consigo ver a silhueta das letras na cal antiga dessa casa aludindo aos dizeres de bebidas. Depois o resto é engraçado, em frente a Quinta Nova onde me lembro ainda de ter vivido a minha Tia Avó Alice e as minhas primas Rosa, Alice e Irene, do lado o Tiago em frente o Tonecas acima o Candeias, mais a cima a casa que tinha sido do “Augusto vinte ovelhas” (do meu Bisavô) e como na canção em terra pequena ... “todos são primos e primas”! «Aliás este tipo de assunto coloca-nos algumas questões! Por exemplo a questão da consanguinidade, a questão da possível descendência dos hoje naturais de Poiares. Muçulmana, tribal (como cigana) e outras situações como Judia por exemplo. Um assunto que de futuro irei analisar e ver se tem sustentação.»
Nessa parte da família da mãe, também é interessante os contos da tal sobrinha do “Almeida Garrett” que casou com um tio da minha mãe e dos quais ainda fui ver casas velhas, mas ao pé do Estádio das Antas no Porto donde ainda veio uma herança diminuta depois de dividida por Bragueses e Cordoezes. Vidas pois! Tenho uma lembrança dessa história toda. Do tal tio avô “galante” do negócio do “sarro” e “marchante” que casou com a tal “menina” do Porto muito rica da família de Garrett!
A estrada da Risca – Silva faz-me ter recordações que se encaixam bem na História de Poiares dos últimos 30 anos. Várias vezes fui ver o moinho da cera da Casa dos Moinhos acima da Segundeira, fui varias vezes de bicicleta até à antiga fábrica “Santa Rita” onde vi máquinas antigas e o pormenor de uma máquina de fazer telha ter sido “parada” quando estava a fazer provavelmente a última telha, assim como inúmeros aspectos que hoje me fazem rir de aprendiz de Arqueólogo. Há já 11 anos (nem percebo bem como o tempo passa!), fiz a primeira notícia sobre História Local de Poiares. Saiu em 1997 e nessa altura estudava então uma cadeira de Arqueologia Industrial dada pelo insigne professor Amado Mendes na FLUC.
Salientei inúmeros aspectos que se poderiam valorizar na História de Poiares, aliás como o tenho feito desde essa altura, mas o resultado tem sido sempre muito decepcionante! Pouco se tem feito para deixar vestígios nas mais várias áreas da História apegando sempre a ideia que pouco se tem!
Todos os terrenos do ribeiro que passa na Segundeira são meus conhecidos. Em pequeno calcorreava esses até às canas da índia que estavam na “sorte” da “Tia’delaide”! O tio Antonino sentado numa tábua em cima de uma “bigorna” tinha a acompanhar um carro que hoje iria buscar fosse onde fosse. Lembro-me de dar à manivela para se por a trabalhar. O lagar da Casa dos Moinhos mais acima era local de passagem e gostava de ver o “fuso” em madeira que teimava em estar no ar! Depois eram inúmeras silvas e outra bicharia por todo o lado. Desses lagares que tantos existiram no concelho não se recuperou um que ficasse a perpetuar a memória! Como é possível! Lembro-me também do do “Russo” já a caminho do “tal” Espadanal agrícola e florestal. Esse moinho tinha também uma particularidade. Além dos casais de mós onde brincávamos tinha um motor, afastado uns 10 a 15 metros que em tempo de carência de água já funcionava a fuel. E brincava-se nos prados secos ou verdes com as tais cabras e ovelhas ao lado, sim dessas que hoje não se vêem ou vêem poucas e não se falava em raptos nem nada que se parecesse.
Esta estrada da Risca – Silva como o já referi noutros locais era de estrema importância para o concelho. Mais tarde designada EM 541 (Venda Nova EN 17 – Ribas EN 17) era a estrada que se pensou substituir a Beira.
Neste trecho teve a importância de ligar várias questões à sede de Concelho. A água que vinha do Jagundo (Venda Nova) para a Vila Sede de Concelho, deixando inúmeros bebedouros, fontes e chafarizes. Fazia a ligação da estrada da Aboreira que vinha da Ribeira do Moinho desde tempos imemoriais, de grande parte do tráfico das Beiras Interiores como Arganil, Gois, Friúmes (Penacova) / ainda hoje se sente na Feira do Concelho e até no Centro de Saúde (atendimento de pessoas que apesar de serem do concelho de Penacova vêem ter consulta em Poiares) e o comercio fazendo que no trajecto as casas à beira estrada aproveitassem as várias portas comerciais para vender e comprar. A expansão da Vila de Poiares a Nascente, tem tudo a ver com esta aproximação à estrada. Hoje com inúmero trafego, que, para uma zona urbana deveria ser controlado, consegue ainda manter alguma “traça” arquitectónica do Poiares Oitocentista e de inícios de Novecentos! Por quanto tempo? Não sei. Julgo como alguns dos meus antecessores Históricos que tudo se vai perdendo no tempo, não por culpa apenas deste, mas acima de tudo por vontade dos Homens.
Pedro Santos

quinta-feira, abril 10, 2008

As Mós em Pedra são de Poyares ...pois então!


São da Freguesia de São Miguel de Poiares e ainda hoje se trabalha a “pedra”. È a partir dos “arenitos” – tradicionalmente explorados na Serra de São Pedro Dias – que são feitas as mós, assim como outros objectos em pedra e é o seu colorido que dá aos artefactos um jogo cromático de beleza característica e singular. Hoje o Eduardo Lima faz pequenas maravilhas que costuma mostrar nas feira de Artesanato como na POIARTES por exemplo.
Inicialmente a extracção da pedra era feita com pólvora, mais tarde com dinamite. Esta extracção da matéria-prima para o fabrico das mós era uma tarefa extremamente dura, até porque todo o transporte era feito com animais (juntas de Bois) e com a força do homem. A extracção da pedra era feita de forma semelhante ao da pedra calcária (cal) ou como a de Portunhos da Pedra de Ançã.
Era na própria pedreira que a pedra tinha que ser desgastada o mais possível, por forma a facilitar o transporte de pedras cujo peso poderia atingir facilmente números acima de mais de 1.000 Kg.
Existiam no concelho várias explorações, no lugar do Olho Marinho as pedreiras estiveram na origem da abertura de muitas oficinas de talhamento das mós com a importância que daí advinha. A Câmara Municipal alugava terrenos Baldios e da Câmara/ ou Juntas para extrair pedra, advindo dai lucros para o concelho. Vários registos atestam isso mesmo no concelho de Poiares, Lousã e outros.
O fabrico das mó em tempos recuados assumiu uma importância muito significativa, até porque as mós eram utensílios utilizados para moer o milho, o centeio, a aveia e outros cereais. Mas não só neste tipo de industria (Moinhos), eram utilizada as mós, pois as azenhas e os lagares, tal como a indústria vidreira e outras, utilizavam as mós para trituração.
As mós de Poiares eram vendidas para todo o País. Ainda à pouco tempo pudemos constatar que os moleiros de Avanca utilizavam (por serem as melhores) as mós de Poiares. (Seminário da Broa de Avanca em Dezembro de 2007)
Também na zona de Queluz onde os Marqueses de Pombal tinham moagens as pedras eram originárias de Poiares por serem estas as melhores do “Reino”. Há poucos anos ainda foi feita uma replica para ir para esses Eco – Museus dos Palácios dos Marqueses de Pombal em Queluz.
Hoje em dia, com o declínio dos moinhos, as peças que têm mais procura servem, essencialmente, para fins decorativos. No concelho hoje, como nesses tempos antigos, os artesãos utilizam precisamente a mesma forma de trabalhar. No talhamento são utilizadas várias ferramentas como o martelo, o compasso, os picões e as barras. A maior parte do trabalho de cabouqueiro é passado a trabalhar a pedra com o picão, de forma a fazer surgir as tradicionais mós.
As mós eram e são talhadas em quatro tamanhos: 90 cm, 1 m, 1.05 m e 1.20m. A tradição em Olho Marinho continua a resistir á passagem dos anos e ainda hoje por lá se pode encontrar quem fabrique as mós como nos tempos antigos.

Pedro Santos