aboreira scriptorium

É pretensão deste espaço, ser um depósito de ideias, tónica de pensamentos do seu autor, sobre a actualidade em geral e com especial incidência em várias Culturas, no Turismo, no Património e na Gastronomia, em Vila Nova de Poiares, na Região das Beiras/ Portugal e no Mundo. Pedro Carvalho Santos, pensou-o ... e o fez ...

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Localização: Vila Nova de Poiares, Coimbra, Portugal

Existo - creio no meu Deus.

quinta-feira, agosto 28, 2008

Prémios Agricolas / Ensino

Prémios Agrícolas – IX


Uma vez abordado o sector Industrial e o sector Comercial, resta-nos observar aspectos relativos ao sector Agrícola no concelho de Vila Nova de Poiares.
Como é conhecimento de todos, a agricultura terá sido uma das primeiras actividades que se desenvolveram no território deste concelho. Inicialmente, tal como em outros lugares, a actividade agrícola assumiu um carácter de subsistência, os agricultores produziam apenas para consumo da família. Numa economia de subsistência produzem-se os mais variados tipos de produtos, por forma a satisfazer todas as necessidades da família. Durante muito tempo os agricultores do nosso concelho tiveram apenas este objectivo. Começam, no entanto a surgir excedentes de produção, o que sobrava o agricultor trocava por outros produtos, particularmente pelos que não produzia ou que necessitava, como roupas, calçado, entre outros. Mais tarde esta troca directa deixa de ter qualquer significado, passando a assumir importância o dinheiro, despoletavam-se assim as trocas comerciais.
Geograficamente localizado numa depressão, poderíamos imaginar nos finais do século XIX, inícios do século XX, um concelho eminentemente agrícola, onde dominavam as pequenas explorações agrícolas, tão características do sistema de minifúndio que desde sempre vigorou no Norte e Centro de Portugal. Pequenas explorações das quais os agricultores os mais variados produtos, desde os cereais, ao vinho ou ao azeite. Procurámos saber que imagem os autores da época nos transmitem de Poiares enquanto concelho agrícola.
Na sua obra, «Portugal Antigo e Moderno», Pinho Leal, informa-nos que o concelho de Poiares tem o solo de calcário, abundando as argilas amarelas que a pouca profundidade daí que a produtividade fosse baixa, para o que também contribuem as baixas temperaturas que aí se registavam. Opina ainda sobre a produção vinícola, alegando a má qualidade do vinho, chegando a classifica-lo mesmo como ordinário. Não podemos deixar de considerar esta visão como bastante pessimista, na verdade não seria bem assim, particularmente no caso do vinho.
Não nos podemos esquecer que Poiares se desenvolve como concelho apenas no século XIX. Com uma infância acelerada, o comércio terá assumido o papel de maior destaque nesse desenvolvimento, no entanto não podemos deixar de valorizar o peso do sector agrícola nesse desenvolvimento. Esta actividade provavelmente não terá tido repercussões nos concelhos limítrofes ou outros mais longínquos, mas não podemos deixar de lhe atribuir um papel importante ao nível da subsistência dos agricultores e do mercado local. Se é esta a visão que podemos ter da actividade agrícola no século XIX, no século XX, a política do Estado Novo vem novamente valorizar esta actividade, pregando o cultivo de todos os pedaços de terra fértil do nosso país. Frutas e legumes, batatas, cebolas e tomates são alguns dos produtos da terra que se comercializavam na feira de Poiares. Se é verdade que alguns dos agricultores vinham de outros concelhos, na sua maioria eram Poiarenses que vendiam o fruto do cultivo da sua terra.
Em 1956 durante o regime de Salazar, foi entregue á Câmara de Poiares uma Menção Honrosa por esta ter enviado duas paliteiras, afim de representarem o concelho na “Exposição Agrícola” para a inauguração do novo Edifício do Palácio de Cristal, na cidade do Porto.
No entanto retomando a questão vinícola, e pelos estudos que temos feito sobre o concelho iremos reflectir sobre este sector, principalmente após termos tomado conhecimento de um certificado internacional atribuído a Poiares no século XIX.
Discordando da opinião de Pinho Leal, estamos em crer que o vinho do nosso concelho não seria nem de má qualidade, nem ordinário, muito pelo contrário. A 27 de Setembro de 1876, numa Exibição Internacional de Vinhos, na cidade de Philadelphia, nos Estados Unidos da América, Poiares é distinguido com um certificado de qualidade.
Por curiosidade que pode despertar ao nosso leitor, acrescentamos que o vinho premiado naquela exposição pertencia á adega do Sr. Joaquim Ferreira de Matos, pai do ilustre poiarense, Doutor Daniel de Matos. Esta colheita era originária duma propriedade designada de Eirado Novo.
Na verdade sabemos que as casas mais abastadas do concelho possuíam adegas, algumas de grande dimensão, poderíamos até considerá-las, face à realidade da época, como verdadeiras «Indústrias do Vinho». Casos conhecidos são as adegas da Quinta do Torrel, da Quinta do Camilo (conhecida também por Quinta da Senhora das Necessidades e Quinta da Machada), da Quinta da Beócia ou da Casa dos Moinhos, bem como outras de maior ou menor dimensão que se distribuíam pelo concelho.
Não nos parece que o vinho produzido nestas adegas não fosse de qualidade. Parece-nos sim que não terá havido mais sucesso fruto das mais diversas circunstâncias, nomeadamente devidos às frequentes ausências dos proprietário que se viam na necessidade de entregarem o cuidado das suas explorações a rendeiros. Por outro lado, alguns proprietários agrícolas exerciam outras actividades que lhes ocupavam grande parte do seu tempo, bem como implicavam muitos investimentos, o que colocava a agricultura em segundo plano. A recente povoação do espaço e a tardia administração do concelho, com os seus vários suprimentos, provavelmente não contribuiu para que existisse mais tradição vinícola no nosso concelho.
Poiares hoje não é concelho de região demarcada de vinhos mas é limítrofe dum desses concelhos da Região Demarcada do Dão, a saber Arganil.


Mensagem aos leitores:

A todos os nossos leitores e em especial aos das Crónicas de História Local, uma quadra Natalícia cheia de Paz, Amor e muita Luz, um Ano Novo muito próspero, com saúde e grande felicidade, com Deus Nosso Senhor a guiar-nos e a ajudar-nos.




Foto 1 :
Certificação de Prémio Vinícola na Exibição Internacional em “Philadelphia” nos Estados Unidos da América em 1876. Arquivo da C.M.P.

Foto 2 :
Diploma de “Menção Honrosa” à Câmara Municipal de V. N. de Poiares na Exposição Agrícola de 1956. Arquivo da C.M.P.



As Primeiras Décadas de Ensino no Concelho – X


A educação, tal como a conhecemos hoje, é um direito que assiste a todos os cidadãos, no entanto nem sempre foi assim. Durante muitos séculos o ensino era um luxo a que só alguns tinham acesso.
Desde a constituição do concelho de Poiares, em 1836, até inícios do século XX, em diversos pontos do concelho, o ensino processou-se em casas particulares. Casas essas que eram convertidas para dar aulas e muitas vezes o professor era o próprio dono da casa. Trata-se de uma situação frequente em todo o país, especialmente nos concelhos mais pobres do interior. Durante a Monarquia e a 1.ª Republica o cenário não sofreu grandes alterações. Só o Estado Novo vem alterar esta situação através de planos para a erradicação da enorme taxa de analfabetismo que então se fazia sentir.
Na época o ensino centrava-se nas mãos dos clérigos. Mesmo antes da constituição de Poiares como concelho, existiam já inúmeros Padres que muito contribuíram para o ensino das letras a jovens que enveredariam pelo caminho da religião, bem como às crianças do nosso concelho. Podemos salientar o ensino na casa da Abraveia, pertença do Padre José Vicente Gomes de Moura, ou ainda nos Seminários que existiram neste concelho.
Num período em que, a nível nacional, era distribuído um subsídio advindo do grande legado do benemérito, Joaquim Ferreira dos Santos, o concelho de Poiares procura também aceder à mais conhecida obra deste benemérito, as Escolas «Conde Ferreira». Assim, Poiares teve uma das 120 Escolas que foram custeadas por este benemérito, a qual se situava junto aos Paços Municipais. Para satisfazer a eventual curiosidade do nosso leitor, podemos salientar que este tipo de atitudes filantrópicas eram comuns no século XIX. Em consequência dos seus actos de beneficência e serviços prestados à causa constitucional, foi concedido a Joaquim Ferreira dos Santos o título de Barão em 1842, de Visconde em 1843 e Conde em 1850.
Os Paços Municipais foram outro dos espaços onde funcionou durante várias décadas uma escola masculina e uma feminina, curiosamente poucas escolas existiam do sexo feminino.
Em 1894, antes do segundo suprimento do concelho, a Câmara insiste com o testamenteiro do legado de Monsenhor Mattos para que se realizasse o seu desejo de construir uma escola primária em São Miguel, sendo que a sua livraria seria deixada para a mesma escola.
Neste mesmo ano em Santa Maria da Arrifana a escola do sexo masculino ocupava parte da casa do padre. No entanto, as condições para leccionar eram bastantes difíceis, nomeadamente pelo facto de chover dentro da escola, prejudicando a saúde do professor e dos alunos, bem como a falta de condições higiénicas. Assim o professor solicitava à Câmara melhorias a este nível, pedia também para que lhe fossem processados as folhas das rendas da casa de residência do ano de 1893 e 1894.
Na verdade, o ensino dos mais novos era precário e de difícil acesso. Não que o próprio Estado não orientasse os Governos Civis e estes as Câmaras no sentido de algum sucesso da aprendizagem das primeiras letras, mas vivia-se num país fortemente analfabeto. As escolas fechavam durante meses pelos mais variados pretextos, como sucedeu no nosso concelho em 1898, depois de Poiares ter sido restaurado definitivamente, quando que a escola de “sede nésta Villa ... se encontrava fechada ... a bastantes mezes”.
Em 1931, encontrava-se em execução o processo de expropriação do terreno onde se encontrava a escola da Vila, no sítio do Barreiro, no entanto o mesmo terá sido doado. Depois de o ensino ter funcionado em casas particulares, na escola Conde Ferreira e nos Paços do Concelho, iniciavam-se, sob a tutela do Estado Novo, os planos de combate à analfabetização em Portugal. A Escola de Poiares foi uma das que beneficiou do Plano dos Centenários. Esta designação foi dada a inúmeras escolas feitas durante o regime de Salazar, para definir as construções escolares dentro deste plano de construções.
Neste mesmo ano é concluída a escola de Vale do Gueiro, estando apenas à espera de ser equipada e de entrar em funcionamento. Elementos que compõem a Câmara da altura reúnem-se em Coimbra afim de obterem autorização para serem criadas as escolas de Abraveia, Vila Chã e Venda Nova. Em 1937 é solicitada a interferência do Governador Civil para a construção da Escola na sede de Freguesia de Santa Maria. Em 1938, no dia um do mês de Dezembro comemorava-se o feriado com um programa escolar e desfile de todas as crianças das escolas, é o que nos mostra a figura, na qual também podemos ver o quão diferente era a Vila de Poiares.
Nos anos ’30 foi grande o fomento de construções escolares em Portugal. Durante esta década assistimos ainda à ordenação de que todas as salas de aula deveriam possuir os retratos do Presidente da República, do Presidente do Concelho e uma Imagem de Cristo, como concerteza alguns dos nossos leitores tão bem se lembram. Era o pensamento que pretendia unir o país, a trilogia do Estado Novo.
Até ao final do regime foram criadas escolas em todas as sedes de freguesias de Poiares e nos maiores lugares do concelho, todas estas em edifícios próprios.
Hoje e nos últimos anos a temática do ensino tem sido analisada numa outra óptica, pelo que não iremos desta vez abordar esta questão, mas numa próxima oportunidade.



Foto:
Comemorações do 1.º de Dezembro levadas a efeito em 1938 pela Câmara Municipal de Poiares, «Desfile das crianças das escolas». Arquivo da C.M.P.

Brasões no Concelho de Vila Nova de Poiares / Mercados

Brasões no Concelho de Vila Nova de Poiares - VI

A simbologia está patente em todos os locais por onde circulamos, desde os simples símbolos de produtos alimentares aos mais complexos símbolos de clubes desportivos e associações. Como é óbvio, o concelho de Poiares não se encontra desprovido da mais diversa simbologia. Aqui poderemos encontrar os mais variados símbolos, sejam públicos ou sejam privados, sejam comerciais ou políticos, sejam de distinção ou de nobilitação.
De uso corrente na ciência, na arte, na literatura, na linguagem, na vida social, o símbolo leva-nos ao conhecimento de uma realidade, mais ou menos conhecida. Ao nível do simbólico vamos encontrar o mote da nossa dissertação – os brasões – os quais não são mais do que um símbolo, de uma família, de um país, de uma cidade ou de uma vila.
Relativamente aos brasões existentes neste concelho, a sua maior parte refere-se a instituições administrativas locais, ou tem origem monárquica.
De uma forma simplista poderemos considerar os brasões monárquicos como símbolo da nobilitação de determinada família, em virtude dos feitos de algum dos seus membros, por parte do poder régio. No concelho de Poiares existem três brasões monárquicos.
Na Póvoa da Abraveia, um dos mais antigos lugares do concelho, houve em tempos duas casas brasonadas. Um desses brasões, encontra-se na actual Biblioteca da Câmara Municipal, tendo sido pertença de D. João Casimiro de Mascarenhas, fidalgo da Casa Real, Capitão–Mor de Penela, muito antes do nascimento de Poiares como concelho. O outro brasão permanece no local original, tendo sido pertença de uma ilustre família descendente de D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.º Duque do Cadaval, 4.º Marquês de Ferreira e 5.º de Tentúgal e Mordomo–Mor da rainha D. Maria Francisca Isabel de Sabóia.
No lugar de Vila Chã existe um solar com um brasão que pertenceu à família de José de Mattos Ferrão Castelo–Branco e Serra. A família dos Ferrões e Castelo–Branco, exerceram grande influência nos destinos do Concelho no século XIX, tendo assumido posições de destaque social.
Não poderíamos terminar sem focar o brasão que se encontra na fachada dos Paços do Concelho, o qual representa as armas de El Rei D. Luís, monarca reinante aquando da construção deste edifício.
Com a queda da Monarquia, desapareceu também a possibilidade de nobilitação e consequentemente o surgir de novos brasões monárquicos. No entanto permanece um outro tipo de brasões, agora estreitamente ligados à Administração Local. A este nível poderemos observar o brasão do concelho, o da freguesia de São Miguel de Poiares e o da freguesia de Lavegadas.
O brasão do concelho concebido na década de ’30, foi o concretizar de um anseio que vinha desde a fundação do concelho, pois desde cedo se considerou de extrema importância a existência deste símbolo. Caracterizado por dois pinheiros bravos, com duas andorinhas e uma abelha em chefe; coroa mural de quatro torres com listel contendo os dizeres: Vila Nova de Poiares.
Mais recentes são os brasões das freguesias de São Miguel de Poiares e de Lavegadas. O brasão de São Miguel é composto por, duas faixetas ondeadas, tendo por cima uma balança, com dois pratos azuis e uma espada de São Miguel; encontramos ainda uma ponta de ramo de oliveira e duas mós de moinho, coroado por coroa mural de três torres com listel contendo os dizeres: São Miguel de Poiares.
No brasão da freguesia de Lavegadas poderemos observar o Dólmen de São Pedro Dias, a ponte de Mucela, o rio Alva, e as açucenas de São José. É coroado por um mural de três torres com listel contendo os dizeres: Lavegadas.
Para o observador menos atento lembramos a distinção que existe, no campo da Administração Local, entre os brasões de cidade, vila e freguesia. Enquanto o brasão de freguesia é coroado por uma coroa mural de 3 torres, o de vila apresenta uma coroa de 4 torres e o de cidade uma coroa de 5 torres. São estas 5 torres que esperamos ver um dia a coroar o brasão Vila Nova de Poiares. E, se nos permitem a ousadia, poderíamos já antever o nosso brasão daqui a alguns anos, com a quinta torre que será orgulho de todos os Poiarenses. Este símbolo poderá ser considerado por alguns de vós como utópico, mas a verdade é que quando se aponta para que dentro de alguns anos a vila de Poiares seja elevada a cidade, está-se a criar essa quinta torre de “ouro” que honrará o Progresso e o Desenvolvimento do concelho, bem como todos os Poiarenses que contribuíram para a sua implementação. Isto porque não nos podemos esquecer que o Presidente da Autarquia Jaime Carlos Marta Soares tem como desejo que Vila Nova de Poiares seja «...num futuro pouco distante uma média cidade de capital importância no distrito de Coimbra e da própria região Centro do país...».
Continuando no percurso das sugestões, não nos podemos esquecer que existem duas freguesias no concelho que ainda não possuem o seu brasão. Como tal não vamos perder a oportunidade de convidar os Senhores Presidentes das respectivas Juntas de Freguesia a ponderarem a possibilidade de os elaborarem, para o que poderemos apontar algumas sugestões.
No caso da freguesia de Santo André, porque não fazer uma alusão à lenda de D. Afonso Henriques (Vimieiro). Não se considere novidade, o brasão da cidade de Faro é um dos que representam uma lenda. O próprio Dr. José M Ferrão, nos anos ’30, chegou a propor que esta lenda constasse no brasão do concelho.
Quanto à freguesia de Arrifana, não deixaria de ser interessante enaltecer o antigo porto fluvial de Louredo, verdadeiro pólo comercial no século XIX e inícios do século XX, de influência a nível regional.
Como foi referido anteriormente, estas palavras não passam de meras sugestões, que poderão ou não ser tidas em consideração por quem de direito. Acima de tudo pensamos que podem ilustrar traços da nossa História, que se devem marcar e realçar por forma a reforçar a História Local de Poiares, que tantos teimam em considerar inexistente.
















As Actividades Comerciais
Feiras e Mercados VII


Polo de desenvolvimento de uma região, as feiras e os mercados são factor primordial desde os tempos mais antigos em todos os cantos da Terra. Desde tempos remotos que os homens deixaram de viver exclusivamente em economia domestica e passaram a viver fazendo trocas, primeiro directas e depois indirectas (ou seja monetária). Começaram por produzir mais do necessitavam, gerando excedentes que sabendo que com esses próprios excedentes poderá adquirir o que necessita a outros produtores. E assim nascem as primeiras formas de troca e de compra.
Podemos designar as feiras por lugares, geralmente descampados e descobertos onde se juntam feirantes em certos dias ou épocas para oferecerem produtos que pretendem vender. Em tempos mais recuados armavam-se barracas de comes e bebes e por vezes teatrecos (que popularmente alguns se apelidavam de Robertos) que eram a alegria de miúdos e graúdos, isto num tempo em que a realidade era tão diferente da actual.
Outro tipo de feiras se realizaram e outras por fortes tradições ainda hoje se realizam, como as feiras especificas de vários produtos; de gado, feiras cavalares, feira das castanhas. Há ainda as feiras francas, feiras onde não se pagam direitos. Os mercados são lugares ao ar livre em cidade ou aldeia em que se vendem géneros alimentícios ou diversas mercadorias. Outros tipos de mercado existem mas não falaremos deles visto não ser este o propósito do presente artigo.
Sabemos que as feiras no que é hoje o Concelho de Poiares, já existiam há centenas de anos e não é fácil saber como terão aparecido. Inicialmente cremos que fosse onde hoje é a povoação de Santa Maria, estando em ligação com o porto fluvial de Louredo. Com as novas vias de comunicação que se desenvolveram e com o maior povoamento de Poiares (Santo André) a feira deslocou-se também para este local, havendo a possibilidade de ter sido ela a responsável pelo desenvolvimento da povoação de Santo André de Poiares.(Um padre que cansado com o barulho expulsou a feira do local). É com a vinda destes feirantes à segunda – feira que a povoação de Santo André de Poiares terá começado a progredir.
Durante muito tempo coexistiram duas feiras. Uma de Produtos de vária ordem, como artigos ligados ao hoje chamado artesanato (que nesta altura eram artigos mais utilizados, como potes, cântaros de barro, vasos, tapeçarias variadas, cestos, palitos e outros, produtos hortícolas, como favas, ervilhas, batatas, e demais produtos da terra , produtos de panificação, como pão e bolos, peças de vestuário, artigos de ourivesaria, relojoeiros, e muitos outros produtos.
Outra feira de animais (conhecida por feira dos bois) que se realizava de 15 em 15 dias e onde se transaccionavam animais de grande porte, (gado) como gado muar, bovino, suíno, caprino, ovino e outros, a saber, bois, vacas, cavalos, burros, cabras, cabritos, ovelhas, bodes, porcos e animais de pequeno porte como aves de capoeira e outros bichos caseiros. Galinhas, perus, coelhos e outros bichos que tais.
Os locais onde as feiras se realizaram foram diversos. Desde a zona do fundo da vila onde poderá ter existido uma Igreja, local onde os mais antigos chamavam «Adro», ao lugar da estrada do cemitério ao largo da Capela de Nossa Senhora das Necessidades, ao local junto a Ribeira de Poiares, á própria Vila onde hoje se encontra o Jardim de Santo André, todos eles foram utilizados para comerciar os mais diversos produtos nas feiras que se realizaram em Poiares.
Registo que não deixa de ser interessante é o facto de em 1900, exactamente há 100 anos, o então Presidente da Câmara Municipal, senhor José Henriques Simões ter proposto á Câmara que se solicita-se ao Governo de Sua Majestade que fossem isentos de licença todos aqueles que expusessem géneros à venda em pequeno comercio nos mercados do concelho. Outra nota de pormenor é o facto de durante dezenas de anos a Câmara realizar praças para a limpeza do lixo das feiras. Na realidade nestas praças era o lixo arrematado por determinada importância. O lixo das ruas da Vila de Poiares e o lixo das feiras, eram designados de «Lixo de Montaria ?».
Existia a praça do peixe, onde se vendia este produto que desde os tempos mais recuados vinha em carroças de bois e posteriormente em camionetas até ao local de venda, ou até mesmo algumas peixeiras o traziam em cestas na camioneta de carreira de Coimbra. Por várias vezes temos registos sobre queixas que no inicio do século eram feitas por os proprietários confinantes com a feira da sardinha, em que expunham os prejuízos que tinham por o sal invadir os seus terrenos. Caso da Quinta do Torrel de Baixo em que o proprietário Dr. José M. D. Ferrão se queixava dos prejuízos na sua vinha. Ainda no inicio da década de 60’ haviam queixas das águas do mercado do peixe de se infiltrarem nos terrenos desta família. Posteriormente foi feito um poço para onde ia o sal que vinha dessa feira, atenuando o problema.
Que interessante será se tivermos a sensibilidade para pensar no tempo em que viveram os nossos pais e nossos avós, desprovidos de rádio, de televisão, de computadores de tudo o que nos rodeia.
Ouçamos os ruídos, ... o barulho das pessoas, das coisas, dos animais!
O ruído que ouvimos, será de vendedores ?
A terra batida, o feno, o mato, os cheiros e odores, as conversas, os gritos e pregões!
São os charlatões a apregoarem a «banha da cobra» para todos os males, é uma concertina que toca, uma galinha que foge, um cavalo que relincha, uma poça de água no chão, ... um lamaçal lá a frente!
Senhores, sim, senhores de respeito, de fato e colete, ou descamizados de trabalho, sim de trabalho arduo das terras, das pedreiras da serra, de bicicleta ou a pé, de cavalo ou de mula, quem sabe algum de carro, conforme os tempos. Vieram de várias terras vizinhas, para comerciarem, para falarem, ... falarem de que ? Da sua vida, dos seus afazeres, da política, do rei, do governo ou dos senhores das terras, ou simplesmente do senhor que acabou de passar e anunciava a nova peça de teatro que iria estrear: « ...venham ver, ... da terra á lua, ... venham ver, ... no teatro do Barreiro, ... etc. ...».



Post escritum : Agradecimento ao Senhor Alberto Santos pelas informações que nos prestou.