aboreira scriptorium

É pretensão deste espaço, ser um depósito de ideias, tónica de pensamentos do seu autor, sobre a actualidade em geral e com especial incidência em várias Culturas, no Turismo, no Património e na Gastronomia, em Vila Nova de Poiares, na Região das Beiras/ Portugal e no Mundo. Pedro Carvalho Santos, pensou-o ... e o fez ...

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Localização: Vila Nova de Poiares, Coimbra, Portugal

Existo - creio no meu Deus.

segunda-feira, julho 21, 2008

Contributos para a História Local de Vila Nova de Poiares V



Nascido no século em que a Revolução Industrial teve o seu grande impulso, o concelho de Poiares desde cedo desenvolveu essa importante vertente económica. Considerado por muitos como um concelho eminentemente agrícola, não podemos deixar de lhe atribuir um carácter industrial. Iremos abordar ao longo desta crónica, bem como nas duas que se seguirão, as actividades transformadoras que existiram e existem no concelho de Vila Nova de Poiares, particularmente as actividades industriais.
Se considerarmos Indústria como sendo uma actividade transformadora de matérias-primas num produto final destinado ao mercado, no concelho de Poiares foram implantadas diversas actividades que se inserem neste domínio, como o provam vários documentos. Como é óbvio, o processo produtivo no seu início era completamente distinto do que conhecemos na actualidade. A própria produção era em quantidades francamente inferiores, não se atingindo a produção em massa dos nossos dias. Felizmente encontram-se ainda preservados algumas destas indústrias mais tradicionais que nos permitem recuar a tempos idos.
Os moinhos de vento são documentos vivos dessa actividade. Fonte de receitas para o nosso concelho, sabemos que a moagem de cereais se desenvolveu a par com os concelhos vizinhos, particularmente com Penacova. Os produtos transformados vendiam-se não só na cidade de Coimbra, mas em todo o Baixo Mondego. Situados em áreas elevadas por forma a aproveitar a força do vento, os moinhos foram desaparecendo com a brisa dos tempos. No alto da Serra do Carvalho, nos Terreiros, encontramos vários moinhos de vento algo degradados, tendo a Associação de Desenvolvimento Integrado de Poiares restaurado in sito um deles, encontrando-se à disposição dos visitantes.
Relacionado ainda com a moagem dos cereais, as azenhas assumiram também um importante papel na vida económica do concelho. As águas do rio Alva serviram de força para mover as rodas das azenhas. Ainda hoje podemos observar no lugar da Ponte de Mucela, sito na Moenda, uma azenha em funcionamento que nos mostra de um modo mais tradicional como podemos obter a farinha dos diversos cereais.
A existência de fornos de cal no concelho também foi relevante. O concelho de Penacova, bem como o de Poiares foram grandes centros de produção de cal, elemento de grande procura numa época em que eram inexistentes as indústrias químicas da actualidade. Podemos salientar a importante produção por parte dos fornos de cal propriedade da Casa dos Moinhos, um dos quais podemos ainda hoje observar no Parque das Merendas, no lugar das Medas.
A produção de cera assumiu também um importante papel na economia concelhia. A fábrica de cera, ou lagar da cera, permitia as trocas comerciais com concelhos vizinhos e outros mais distantes. Na Casa dos Moinhos encontramos um lagar de cera no qual, apesar da sua degradação, podemos constar os vários passos ou etapas que eram dados para a produção de cera.
Num concelho em que a agricultura se assume como uma actividade de suma importância, não nos podemos esquecer que alguns dos seus produtos se podem dirigir a um processo produtivo distinto. Poiares apresentou uma importante actividade vinícola que não pode deixar de nos merecer atenção, particularmente em virtude do peso assumido pelas suas adegas. Através de diversas fontes históricas analisadas, tomamos conhecimento de uma polémica que, no segundo quartel do século XX, girava em torno da qualidade do nosso vinho. Se à época havia quem o achasse pobre e sem grau, de pouca qualidade, como é a opinião de Pinho Leal na sua obra «Portugal Antigo e Moderno», a verdade é que o vinho de Poiares chegou a ganhar um prémio de qualidade no Brasil. Os alambiques proliferavam por todo o concelho e se o nosso leitor pensar que eram apenas economias pequenas e familiares, está equivocado, provando-o estão as adegas de grandes casas burguesas e de quintas grandiosas deste concelho. Caso evidente é a adega construída nos primeiros anos de novecentos, no denominado Torrel de Baixo, propriedade do Dr. António Dias Ferrão Castelo Branco, as suas dimensões e o cuidado com que se construiu o edifício só poderia evidenciar uma grande produção.
O azeite é sem dúvida um dos produtos cujo progresso foi dos mais peculiares e representativos do concelho. Na realidade Poiares teve vários lagares de azeite, actividade que sem dúvida trouxe um desenvolvimento económico e social fortíssimo ao concelho que permaneceu até aos nossos dias. A comercialização de produtos oleaginosos foi, desde a fundação do concelho, factor primordial no equilíbrio da débil economia agrícola do concelho.
Para além de todas estas actividades, podemos salientar outras que se assumiram como importantes para o desenvolvimento económico e social do concelho. É o caso da produção de mós, com valor acrescido no concelho e região. A produção de foguetes e de fogo de artifício, foi prática corrente na primeira metade do século XX, produção essa que ultrapassava os limites do concelho, bem como os concelhos limítrofes, alargando-se a nível nacional e às colónias ultramarinas.
Na nossa próxima crónica, continuaremos a debruçarmo-nos sobre as actividades transformadoras do concelho de Poiares, desta feita procurando conhecer melhor actividades como a cerâmica, a serração e o artesanato.

Conforme o prometido, vimos dar continuidade à temática iniciada na última crónica.
No nosso entender, para além das actividades apontadas anteriormente (moagem de cereais, produção de cal, de cera, pirotecnia, azeite, vinho, etc.), há outras que pela sua dimensão e importância comercial fazem com que nos debrucemos um pouco mais sobre elas: o artesanato, a serração e a cerâmica.
O artesanato foi, sem sombra de dúvida, de uma importância extrema no concelho, particularmente na produção dos chamados «palitos de dentes», basta pensarmos no número de famílias que dependiam desta actividade. Segundo as nossas fontes escritas, em 1949 os exportadores de palitos dos concelhos de Poiares e Penacova, faziam uma exposição aos respectivos presidentes de Câmara, a fim de estes poderem sensibilizar os seus superiores relativamente à importância desta produção. Coube a estes Presidentes dar conhecimento ao Governo Civil de Coimbra da importância económica desta produção e consequente exportação. Dada a saturação do mercado nacional, o Brasil assumia-se como um importante consumidor deste produto, seria fundamental confirmá-lo.
No seguimento de um ofício emanado da Coordenação Económica do Ministério da Economia, nos finais de 1951, o Presidente da Câmara de Poiares toma conhecimento que a Embaixada Portuguesa no Rio de Janeiro, na lista de produtos a exportar de Portugal, contemplava os palitos. Face a tão boa notícia a Câmara de imediato informou os exportadores de palitos, Sr. Celestino Lopes Quaresma e União Exportadora de Chelo Limitada. No entanto 15 dias depois ocorre um retrocesso neste processo, na medida em que o Governo Brasileiro não veio a emitir as licenças que permitiam a importação dos palitos.
Durante várias décadas os palitos foram sem dúvida o cartão de visita em certames fora do concelho. Um exemplo disso é o facto de em 1956 a Câmara ter decidido enviar duas paliteiras a fim de representar o concelho na Exposição Agrícola, pela inauguração oficial do novo edifício do Palácio de Cristal.
Dentro do que hoje apelidamos de artesanato, para além dos palitos, a produção de cestas e cestos, de mantas, de produtos de barro, particularmente os barros pretos, e os objectos de madeira, entre outros, assumiram também grande importância económica no concelho.
Actividade de grande importância para o concelho, a transformação de madeira, perdurou até hoje. Concelho com forte cunho florestal, Poiares desde cedo teve indústrias ligadas a esta actividade, particularmente relacionadas com a madeira característica do concelho – o pinho (daí o pinheiro ser um dos elementos simbólicos do brasão de Poiares).
Das três actividades mencionadas, resta-nos abordar as cerâmicas. Embora as serrações assumissem já algum do carácter industrial que hoje facilmente identificamos, são as cerâmicas que melhor caracterizam essa actividade. As cerâmicas foram das primeiras indústrias a necessitar de um espaço mais alargado para a sua instalação, dada a dimensão das suas máquinas e o número de operários que empregavam, bem como são aquelas nas quais mais facilmente apontamos os símbolos da Revolução Industrial – as chaminés. A Cerâmica Santa Rita, de que ainda hoje podemos observar as suas ruínas, e a Ceramiguel, uma indústria de cerâmica desactivada há poucos anos, são um bom exemplo disso.
Durante a década de 50 sabemos da intenção de fabricar artigos de grés e de fazer exportações para o Brasil por parte da Cerâmica Santa Rita. No que diz respeito à Ceramiguel, esta esteve essencialmente vocacionada para a construção civil.
Apesar da importância que todos estes sectores assumiram no desenvolvimento económico e social do concelho, a actividade industrial manteve-se pouco activa e sem grandes alterações até meados da década de setenta deste século. É pelo menos esta a ideia que nos fica da análise da Monografia (1978) de Manuel Leal Júnior, para quem «...Poiares não dispõe da indústria necessária para o seu desenvolvimento...». Segundo este autor, as várias actividades industriais, palitos, cestos, canastras, assim como louça de barro, serração, cerâmica, que assumiram um certo vulto, acabaram no entanto por não acompanhar a evolução macro-económica do país. Manuel Leal Júnior, apesar deste cenário, não tinha uma visão futura de todo negativista, na sua opinião «...é de prever que dentro em pouco, com a construção de casas em bom ritmo, Poiares se desenvolva principalmente na parte industrial...». Do que conhecemos hoje, pensamos que foi realmente uma perspicaz previsão! Terá contribuído para isso o vento de mudança de ’74.
Serão estes ventos de mudança que irão nortear a terceira e última parte desta crónica alargada acerca da actividade industrial no concelho de Poiares

Terminamos no último mês analisando a perspectiva de Manuel Leal Júnior relativamente à actividade industrial no concelho de Poiares.
Estas considerações por parte de Manuel Leal Júnior pouco favoráveis a esta actividade são fáceis de perceber se tivermos em conta a evolução global do país. Apesar de a nossa análise se encontrar restringida a um espaço geográfico bem delimitado, não nos podemos esquecer de que este faz parte de um espaço muito mais vasto – Portugal. Como tal, todo o processo de industrialização do concelho se encontra estruturado segundo a industrialização do próprio país. Devido a diversas condicionantes o nosso país entrou muito tardiamente no processo de industrialização. Enquanto já no século XIX a Inglaterra estar em pleno período da Revolução Industrial, Portugal encontrava-se fora deste processo, de tal modo que na viragem do século XX, ainda não tinha entrado nos meandros da industrialização.
É por volta dos anos 30, século XX, em pleno Estado Novo, que se começam a dar os primeiros passos em direcção à industrialização, ficando todo este processo sob tutela do Estado. Até aos primeiros anos da década de 70 verificou-se uma crescente concentração e centralização do processo produtivo, ou seja, um crescimento acentuado das grandes empresas, as quais se concentram nas duas grandes cidades do país – Lisboa e Porto. O início da década de 70 começa com sucessivas crises petrolíferas e consequentes crises económicas, advindo daí uma alteração no modo de encarar o desenvolvimento económico e social. Começam então a surgir novas localizações industriais, reflexo de um processo de descentralização e expansão industrial.
Na década de 80 começa a assumir uma grande importância o designado crescimento industrial difuso, que caracteriza grande parte do território nacional, particularmente o Norte e Centro Litoral. Este processo de crescimento industrial é, em geral, caracterizado pela predominância de Pequenas e Médias Empresas, difundidas em pequenos aglomerados populacionais. Este “espalhar” das indústrias por diferentes áreas do país é reflexo do papel dinâmico das Autarquias, ou das Associações Empresariais, ou ainda fruto da criação governamental de novas e importantes infra-estruturas que favorecem essas áreas, nomeadamente as redes viárias. Como é de conhecimento de todos, a adesão de Portugal à actual União Europeia em 1986, veio dar um novo alento ao desenvolvimento do país.
É neste período que podemos enquadrar o volte-face no processo de industrialização do concelho de Poiares. Aproveitando uma política de descentralização industrial, centrada na criação de Pólos ou Zonas Industriais, bem como todos os fundos europeus para o desenvolvimento económico, e particularmente industrial, a Autarquia de Poiares conseguiu dar o impulso fundamental para o desenvolvimento industrial do concelho, com todos os benefícios económicos e sociais que daí pudessem advir.
Criada na década de 80, a Zona Industrial de Poiares, fruto da vontade da Autarquia, bem como de outros agentes económicos, é já hoje uma realidade vitoriosa. O desejo do seu alargamento, que em breve será concretizado, ilustra bem a importância desta implantação industrial, factor de riqueza nunca antes experimentado neste concelho. Seguindo as orientações emanadas por instâncias superiores, a Zona Industrial apresenta-se como um todo, homogéneo, geométrico e proporcional. As infra-estruturas existentes, as facilidades concedidas a novos empresários, tornam-na sem dúvida um importante pólo de atracção para a implantação de novas industrias e empresas diversas.
Inicialmente apresentado um número restrito de empresas, actualmente são diversos os sectores industriais implantados nesta Zona Industrial. Indústrias de mármores, cerâmica, madeiras, ferragens, confecções, luvas, móveis, etc. Encontramos também a oferta de alguns serviços (relacionados com o sector secundário), desde oficinas especializadas nas mais variadas vertentes, mecânica, pintura, recauchutagem, bate-chapas, electricistas. Bem como os mais variados armazéns comercias, nomeadamente de construção civil, entre outros.
Permitindo uma oferta mais alargada por parte desta Zona Industrial e complementando as actividades do sector secundário, estão também presentes alguns importantes elementos de carácter recreativo, que contribuem para o bom nome do concelho. Na área envolvente, a nascente e a norte, encontramos algumas pistas desportivas, como a de radio-modelismo, auto-cross, Kart-cross e o esplêndido Kartódromo. Futuramente esta área será complementada com outros investimentos desportivos e recreativos.
Digna do orgulho de qualquer Poiarense, a sua Zona Industrial é um pólo de atracção de juventude e de criação de empregos, um elemento de fixação de população e de elevação do nível de vida das populações locais. Como tal deverá ser encarada por todos como o ex-libris da actual economia do concelho. A Zona Industrial de Poiares não só é uma aposta no futuro, mas uma aposta ganha no presente, assumindo-se como uma marca forte e definida do século XX.








Contributos para a História Local de Vila Nova de Poiares IV

A Água e a sua Distribuição


A temática da água, particularmente a sua futura escassez, tem dominado as cimeiras ambientais que se realizam por todo o Mundo. Já alguma vez se questionou acerca da razão pela qual a Terra é designada como o Planeta Azul? A resposta é bem simples. Apenas 29 % da superfície terrestre é constituída por continentes (na sua maior parte concentrados no hemisfério norte), sendo 71 % do nosso planeta ocupado por mares e oceanos. Pode parecer contraditória a nossa preocupação com a falta de água, mas a verdade é que a quantidade de água potável que temos disponível é cada vez menor, daí a importância da sua racionalização e distribuição.
Para a sobrevivência do Homem a água é fundamental, nomeadamente para saciar a sua sede, para preparar os seus alimentos, para fazer construções. A água sempre serviu para satisfazer as necessidades dos Homens, dos animais e das plantas. A importância deste líquido, em antigas civilizações, permitiu que o mesmo fosse associado ao sobre-natural, tendo mesmo algumas dessas civilizações adorado numerosos deuses aquáticos.
Há milénios que o Homem controla a água para seu benefício, construindo barragens e diques, poços e galerias para a captar. Foram numerosas as civilizações que nasceram junto a grandes rios, como o Tigre, o Eufrates, o Nilo, o Indo, entre outros. Da Antiguidade Clássica poderíamos ir buscar o exemplo de Roma, ou da grande civilização do Egipto. Desde sempre os Egípcios souberam aproveitar a riqueza que lhes era oferecida pelas águas do Nilo. Os Romanos, senhores da engenharia, deram grande impulso às construções hidráulicas, souberam captar através de grandes rodas a força motriz da água que passava por rios e ribeiras de maior caudal, que utilizavam para a moagem dos cereais. Surgiam assim as primeiras azenhas.
Mais tarde, já na Idade Média, o trabalho manual foi gradualmente substituído por máquinas hidráulicas, utilizadas para esmagar azeitonas, sementes, bem como nas serrações para cortar a madeira, ou no apisoamento de fibras e tecidos, ou ainda nas metalúrgicas, em que a força da água fazia accionar foles e forjas.
Nos finais do século XIX, inícios do século XX, fruto de novas tecnologias, a água começa a ter as mais diversas utilizações. A sua estreita ligação com as actividades do campo e domésticas é subitamente alargada. Com a descoberta da electricidade, a água passa a assumir um novo papel na sociedade. As turbinas hidráulicas e as bombas rotativas, utilizadas nas barragens para a produção de electricidade, introduzem uma nova etapa no aproveitamento da água e sua distribuição para os mais variados fins.
Nas suas primeiras décadas como concelho, Poiares via os seus habitantes abastecerem-se de água potável recorrendo a poços e minas. Mais tarde foram sendo construídas várias fontes de chafurdo (foto 1), as quais se mantiveram até às primeiras décadas do século XX. Estas obras, sempre com os apoios do Governo, evoluíram segundo as capacidades económicas do país. A verdade é que durante a Primeira República, o concelho de Poiares evoluiu muito pouco ao nível da distribuição de água aos diversos lugares que o compõem.
Será sob o peso do Estado Novo que teremos uma maior difusão no abastecimento de água às localidades do concelho. Os chafarizes (foto 2), substitutos das fontes de chafurdo, foram uma das grandes prioridades da política local de então. Processo iniciado já na década de 30 tendo o seu auge nas décadas de 50 e 60, a substituição das fontes de chafurdo por chafarizes e fontanários públicos foi factor de relevo como medida de combate a doenças e infecções. Iniciou-se também a distribuição domiciliária de água, mas apenas a sede do concelho e algumas povoações da mesma rede tiveram essa benesse. Nas inaugurações de 1957, é inaugurado o depósito de água da Ferreira, assim como vários chafarizes distantes da sede do concelho, nomeadamente nas Ribas, Forcado, Algaça, Vila Chã ou Vale de Vaz.
No entanto a grande obra da rede de abastecimento domiciliário de água seria desenvolvida nos anos setenta e oitenta. Recorrendo a projectos e comparticipações do Estado, é com a construção da Estação Elevatória de água da Ronqueira que o caudal de água se torna suficiente para grande parte do abastecimento. Esta obra sofreu um alargamento, nos anos oitenta, através da construção de inúmeros depósitos de água que contribuíram para uma mais vasta distribuição da mesma a todo o concelho. Hoje a zona oriental conta ainda com o abastecimento da Estação Elevatória da Ponte Mucela, contribuindo para uma maior eficácia no abastecimento desta fonte de vida.
Apesar de muitos concelhos no nosso país ainda não terem completado o seu abastecimento de água, o concelho de Poiares encontra-se já a preparar a reestruturação da sua rede de abastecimento de água. Dos cerca de 500 fogos abastecidos por este precioso líquido, por volta de meados dos anos setenta, hoje o concelho de Poiares conta com abastecimento domiciliário de água a quase 4 000 fogos.
Novos materiais, permitem que se remodelem e criem novos abastecimentos domiciliários de água com maior durabilidade (foto 3). Os chafarizes, na sua maior parte fazem parte do passado, embora subsistam ainda algumas pessoas que recorrem a este sistema. No entanto, será importante olhar para essas fontes, para esses fontanários de forma a preservá-los, pois fazem parte da nossa História, da evolução da rede de abastecimento de água, transmitindo aos mais novos outros modos de vida.




Contributos para a História Local de Vila Nova de Poiares III

Os Correios e o edifício da Estação de Correios de Vila Nova de Poiares

Ao longo dos tempos sempre houve quem se dedicasse a transmitir notícias. A pé, de cavalo ou de carroça, de barco ou de combóio, de bicicleta ou de motorizada, de camioneta ou de avião, os serviços dos Correios evoluíram de acordo com as necessidades dos remetentes, bem como ao sabor da evolução das vias de comunicação e dos transportes.
O serviço de Correios, poderá ter tido a sua origem em simples entregas de recados, notícias ou encomendas, a pedido não só de entidades oficiais, como também de particulares. Este carácter pouco oficial terá permanecido até meados do século XIX, apesar de já em 1520 ser algo notória a intenção de estabelecer um serviço público de Correios. Só a 17 de Setembro de 1798 se realizou a primeira viagem entre Lisboa e Coimbra, era o nascer do serviço da Mala-Posta, o qual permitia não só o transporte de passageiros, como também o envio das mais diversas encomendas. Ao observarmos uma pintura a óleo da autoria de José Pedro Roque (Figura 1), podemos analisar as várias fases deste serviço: o percurso, a ceia, a muda dos animais e a pernoita. A insegurança das estradas, o seu mau estado de conservação, o banditismo, as Invasões Francesas e o fraco movimento de passageiros, desmotivavam os responsáveis pelo serviço da Mala-Posta.
Importante veículo de transmissão de comunicações, o serviço de Correios foi cobiçado pelos Poiarenes desde as primeiras décadas após o nascimento do concelho de Santo André de Poiares (mais tarde Poiares). Num tempo em que a circulação de pessoas, cartas, mensagens, objectos de toda a natureza, era dificultada pelo transpor de barreiras naturais, os rios foram os principais meios de aproximação dos povos e veículo de transmissão de mensagens, encomendas e informações diversas, nesta altura assumiu Louredo a sua importância máxima na economia do novo concelho.
O grande edifício dos Paços do Concelho, construído na década de 60 de Oitocentos, «baluarte» da afirmação do concelho de Poiares e base fundamental dos seus serviços, veio também albergar os serviços de Correios. Ainda no século passado, em 1864, antes do segundo suprimento do concelho, é instalado o telégrafo eléctrico, inicialmente com documentos escritos. Mais tarde, no Estado Novo, o serviço de Correios é melhorado com a instalação do serviço telefónico, sendo na década de 50 dotado com uma estação telefónica semi-automática. O alargamento dos serviços oferecidos pelos Correios, fazem sentir a necessidade de alterar e alargar o espaço onde este se encontra.
Na década de 50 o concelho encontrava-se com várias obras em curso, particularmente a grande remodelação e beneficiação dos Paços do Concelho, onde os Correios haviam estado instalados, tornando mais pertinente a construção de um novo edifício para a instalação da Estação de Correios. No entanto, o processo de construção da nova Estação de Correios, não foi facilmente alcançado. Durante vários anos este problema esteve presente, não sendo de fácil resolução, visto que uma das questões a solucionar era a escolha do terreno para a instalação do novo edifício. Em meados de 1953, em reunião de diversas entidades e individualidades, foram seleccionados dois terrenos que ofereciam as melhores condições para esse objectivo. Um deles pertencia ao Sr. Manuel Leal Júnior, o outro ao Sr. Camilo dos Santos, tendo sido, inicialmente, o terreno deste último o escolhido, localizando-se frente à Praça 5 de Outubro. No entanto, esta proposta acabou por não ser aceite, tendo a cedência do terreno sido feita pelo Sr. Manuel Leal Júnior, o qual permite a utilização de um terreno fronteiro ao Jardim Municipal. Ao Sr. Américo Fernandes Coimbra coube o processo de construção do edifício, a quem os Correios ficariam a pagar uma renda mensal (até cerca de 1990). Finalmente, em 1956 é inaugurada a nova Estação dos CTT na vila de Poiares (Figura 2).
No início da década de 90, procurando acompanhar a evolução dos novos meios de comunicação e as necessidades da sociedade, a Estação dos Correios do nosso concelho, sofreu algumas remodelações. O edifício dos Correios (Figura 3), situado em frente dos Paços do Concelho e do Jardim Municipal, apresenta ainda hoje, no segundo piso (1.º andar) a configuração característica das décadas de 50 e 60 do século XX. Já o rés-do-chão foi totalmente remodelado, sofrendo alterações exteriores, de onde se salientam as amplas montras, o acesso principal do público aos serviços, o local de envio de cartas e apartados. Obviamente, não foram descurados os modernos e variados serviços de uma estação do presente. Ao utente são oferecidos os mais diversos serviços para todo o Mundo. Desde o Serviço Postal (cartas, «express mail», encomendas, etc.), a Serviços Financeiros (Certificados de Aforro, produtos de investimento ligados a seguros, à Caixa Geral de Depósitos, entre outros), produtos de Filatelia, serviço de fax, entre os mais diversos serviços.
Numa época dominada pelas novas tecnologias e pela informática, a tradição não é esquecida. Aos mais novos é oferecido um serviço curioso. Na época Natalícia chegam aos Correios inúmeras cartas de crianças dirigidas ao Pai Natal ou ao Pai do Céu, estas não são deixadas sem resposta, às crianças são enviadas algumas lembranças, permitindo o seu sorriso de Natal.
É este espírito humano, mas ao mesmo tempo moderno e eficiente, que esperamos continuar a encontrar na nossa Estação dos Correios.

Contributos para a História de Vila Nova de Poiares II

Crónicas da História Local II


Os poucos dias de sol que este mês de Fevereiro nos oferece levam-nos a sair em busca dos raios do astro rei e a fruir do contacto com o que de belo a Natureza nos dá. Se é bem visível a beleza que floresce nos campos, não menos bela é aquela que a própria mão do Homem nos oferece. Os jardins são um perfeito exemplo dessa realidade.
Não será só a beleza natural que podemos observar nos jardins. Os Jardins revelam-se também como espaços que nos transmitem aspectos mentais, culturais, sociais e até políticos de uma época. São locais onde cada um pode desfrutar de momentos de lazer e bem-estar. Partilhando a imagem da Natureza, os jardins são espaços lúdicos que retratam a paz de espírito que qualquer Homem aprecia.
Em Portugal, bem como no resto do Mundo, os jardins apresentam as mais variadas configurações. São, no entanto, mais frequentes os jardins que se acentuam pela sua forma geométrica. O Jardim Municipal de Vila Nova de Poiares, estrategicamente colocado em frente aos Paços do Concelho, é realçado pela sua simplicidade e sobriedade, as quais poderemos filiar nesse geometrismo.
A necessidade de salientar os Paços do Concelho remonta à sua construção, por volta de 1866. Como necessário complemento do edifício, foi patente durante várias décadas o desejo, por parte dos órgãos de poder, de construir um espaço fronteiriço aos Paços do Concelho. Demolida que foi uma escola, legado do Conde Ferreira, grande benemérito deste nosso país, chegava a vez de outro benemérito oferecer, a custas suas, o jardim que tanto era desejado pelos Poiarenses de então. Tratava-se do Comendador Bernardo Martins Catarino.
Em Agosto de 1951, realizou-se a cerimónia de homenagem ao benemérito que havia custeado o Jardim Municipal. As suas filhas, Sr.ª D.ª Almerinda Catarino da Silva e Sr.ª D.ª Henriqueta Martins Catarino, ofereceram o medalhão que foi colocado no Jardim Municipal, junto ao coreto. Estas Senhoras deslocaram-se do Brasil, local onde supomos que tenha sido concebido o referido medalhão, para no nosso concelho receberem as honras feitas ao seu saudoso pai. Nesta data, a Câmara deliberou conceder às mesmas o título de Cidadãs Honorárias do Concelho, sendo ainda concedido o mesmo título à bisneta do Comendador, a menina Alice Maria da Silva Ribeiro dos Santos, a qual descerrou o medalhão do seu bisavô. Este acto do Município mais não foi do que o pagamento de uma grande dívida de gratidão para com o grande benemérito Poiarense.
O estudo arquitectónico do Jardim Municipal foi realizado pelo Sr. Arquitecto Travassos Valdez, corria o ano de 1951. A figura 1 mostra-nos o jardim no seu início de vida, uma fotografia relativa ao ano de 1953 e retirada da obra Mais melhoramentos, mais trabalho - vinte e cinco anos de valorização regional, I Vol., 1928-1953, do Ministério das Obras Públicas. Aqui são realçados os aspectos geométricos, as pequenas árvores (muitas das quais vindas da Mata do Buçaco) que mais tarde se transformariam nas frondosas árvores que hoje podemos observar.
O Jardim Municipal ocupa um espaço quadrangular, tendo ao centro uma placa ajardinada (com uma forma oval), na qual se pode observar a Cruz Latina e o Brasão do Concelho, desenhados por meio de flores. Do lado Sul, foi construído em plano elevado o coreto, tendo num dos lados da sua base o pedestal (tipo muro de suporte) com o medalhão do já mencionado benemérito. Para aceder ao referido coreto foram construídas duas pequenas escadas laterais, as quais dão também acesso à abertura do jardim, a Sul. Percorrendo o jardim podemos ainda chegar aos Paços do Concelho, pela abertura a Poente, ou ainda à Estação de Correios, a Nascente. Para aceder do jardim à Igreja Matriz, a Norte, após consenso entre a paróquia e a autarquia, procedeu-se a uma remodelação do espaço que medeia entre a referida Igreja e o Jardim, passando pelo asfaltar da rua, pela construção dos muros e passeios, permitindo uma melhor circulação dos veículos no coração do concelho.
O Jardim Municipal, sofreu diversas beneficiações nos últimos anos. Procurando adaptar o jardim aos novos tempos, procedeu-se ao calcetar do piso do jardim (anteriormente em terra e areia), recorrendo ao calcário de cor branca e negra, desenhando o lema do Concelho «Fé, Acção, Unidade, Amor, Trabalho, Solidariedade», junto do bonito desenho retirado do janelão dos Paços do Concelho. Foram ainda construídos muros embelezados por gradeamentos, definindo inequivocamente o espaço deste jardim; bem como resguardos nos canteiros, tendo a própria área ajardinada sido aumentada a nascente e totalmente remodelada a sul (figura 2). Também recente foi a introdução de novos candeeiros e bancos, beneficiando este espaço de lazer.
Tendo como pano de fundo o edifício arquitectónico que lhe serve de complemento, o Jardim Municipal é também um dos pontos de passagem e de passeio, do nosso concelho.

Número 2 (28 de Fevereiro de 2000)

Alteração do texto inicial de 15/02/2000

por: Dr. Pedro Santos

sexta-feira, julho 18, 2008

Crónica com uma década ... mas actual - I !

Em virtude dos pedidos que temos tido para informar sobre aspectos deste concelho, decidimos publicar algumas das Crónicas de História Local e Regional que publicamos, depois de devidamente actualizadas e aumentadas em alguns casos.
É mais uma base de dados para contributos a quem tem que realizar trabalhos académicos ou outros nestas temáticas sobre Poiares.

A todos um bem - haja.


Crónica I / aboreirascriptorium

Nos primeiros dias do mês de Janeiro do ano de 1900 alguns dos jornais nacionais questionavam a mudança ou não de século. Nos primeiros dias do mês de Janeiro do ano 2000 a questão persiste. Não é apenas a dúvida que permanece, os desejos, os sonhos, as antevisões para o futuro figuraram na imprensa escrita das décadas passadas, tal como inundam os media dos nossos dias.
Ao iniciarmos este espaço dedicado à história do Concelho de Vila Nova de Poiares, justamente num período de mudança e de esperança, surge-nos como pertinente recuar ao passado por forma a avaliar o presente e perspectivar o futuro. Não fomos, no entanto, os primeiros a fazê-lo, há meio século atrás houve quem esboçasse o Poiares que estaria para vir. Assim, não podíamos deixar de vos dar a conhecer a capa de um Boletim (edição especial do Boletim da Casa do Concelho de Poiares), editado em Dezembro de 1950.
Projecto futurista desenhado por José Vítor Veneno e Eduardo Rodrigues Ferreira, acerca do qual a direcção escrevia: «O progresso nunca é um fim, é sempre uma ânsia de mais trabalho, de maior perfeição. Poiares, ou melhor, os naturais de Poiares não podem fugir a tal movimento, a esse amor pelo progresso!». Na época, os leitores deste Boletim estavam perante uma antevisão do Poiares que esperavam ser real passadas algumas décadas. E as décadas passaram.
Este desenho não foi, com certeza, o único traçado em meados do século XX prevendo o futuro. Na realidade, inúmeros artigos, caricaturas e esboços versando a realidade do «tempo que há-de vir» foram realizados ao longo da História das civilizações. Seria o século XIX, graças ao poder da imprensa, a dar às massas populares o conhecimento destas previsões futuristas, bem à maneira de Júlio Verne. Só que o desenho que o leitor tem perante si, não é de Lisboa ou de Paris, de nenhuma grande cidade se trata! É mesmo deste pequeno/grande concelho, deste pequeno espaço a que tantos Poiarenses se dedicam de corpo e alma, daí que nos tenha tocado de forma mais intensa. Daí o desejo de o partilhar com todos aqueles que fazem a raça desta terra.
Cinco décadas passaram. Engane-se quem pense que pretendemos fazer um balanço das mesmas. Não temos essa pretensão. Não estamos aqui com o intuito de avaliar o que foi feito, ou o que está por fazer. É certo que o passar dos anos dita por vezes algo contrário à vontade dos Homens, tornando a realidade diferente daquilo que quereríamos ver. A História, peneira a verdade do tempo deixado para trás, sobressaindo da obra feita, o bom e o mau.
Não foi necessário mais que meio século (e em particular os últimos vinte e cinco anos), para que uma pequena vila constituída pelo largo da igreja e por uma rua principal ladeada de prédios, se afirmasse voltada para o futuro e oferecendo a todos que a procuram um considerável índice de desenvolvimento.
Claro que já se assumia como vila em 1905, quando D. Carlos I, penúltimo rei de Portugal, lhe concede esse título. Claro que já era vila quando obteve as suas armas concelhias em 1938. Claro que manteve o seu estatuto de vila durante as difíceis décadas de '40 e '50, quando apesar da recente guerra os Poiarenses lutaram para que se levassem a cabo as necessárias obras públicas. Neste período processou-se a electrificação e o abastecimento de água a algumas partes do concelho, bem como a grande reforma dos Paços do Concelho. Poderá ao leitor parecer pouco, mas é aceitável que as obras se fazem consoante as verbas e o poder central instituído. Sabemos hoje que esses tempos não eram fáceis.
A instabilidade resultante das diversas supressões do concelho, demorou tempo a esquecer, mesmo após a sua restauração em 1898. O desenvolvimento do concelho era notório, mas faltavam grandes obras que evidenciassem o seu território, face aos concelhos vizinhos. Os notáveis Poiarenses lutaram insistentemente para que este território se mantivesse estável e autónomo dos concelhos da Lousã e de Penacova. Assim o teriam feito aquando do 2.º suprimento do concelho, tendo-se deslocado num «carro de bois» à Lousã por forma a resgatar os livros que permitiriam a restauração definitiva de Poiares.
Apesar de todos os melhoramentos feitos durante a Ditadura, pensamos que só a partir da instauração da Democracia, com a Revolução de Abril, Poiares se terá aproximado da ficção preconizada pelo desenho que, há cerca de meio século, foi publicada no Boletim da Casa do Concelho de Poiares. É bem verdade que não temos um aeroporto ou aeródromo, que não existe um grandioso estádio de futebol, nem sequer uma estação de comboios. Mas, é claro que recuando até à década de 50 o cenário era outro, as pretensões eram diferentes. A aspiração por uma estação de correios autónoma, surgia numa altura em que eram poucos os automóveis e o comboio era o veículo mais acessível e, como tal, mais desejado.
Verificamos hoje que as expectativas desse tempo, tão recente e tão longínquo, foram largamente ultrapassadas pelos progressos ocorridos nas últimas décadas do século XX. Visões que ficaram muito aquém das mudanças que se operaram quer no sector dos transportes, quer no sector das telecomunicações. Talvez tenham sido poucos os que sonharam com a sociedade consumiste do presente, com a maximização do automóvel em detrimento dos transportes públicos.
No entanto, algumas das aspirações dos nossos antepassados Poiarenses permanecem na mente daqueles que governam o presente. Sabemos que é intenção, talvez cada vez menos sonhadora e mais realista, construir um estádio de futebol, a par do já existente complexo desportivo. A aviação também não está esquecida, por certo o nosso leitor já ouviu falar do desejo de construção de um aérodromo. Continua-se a prever que Poiares poderá um dia ser servido por um metro de superfície. É aspiração de todos os Poiarenses o melhoramento das vias rodoviárias, sendo a E. N. 17 defendida acerrimamente por quem de direito.
Relativamente à indústria, podemos dizer que o parque industrial é um ex libris da região, daí que nunca mais se volte a escrever que «Poiares não dispõe da indústria necessária para o seu desenvolvimento» (Vila Nova de Poiares, Monografia, de Manuel Leal Júnior). O Mercado Municipal é hoje uma realidade pela qual tantos presidentes desta câmara municipal lutaram. A Guarda Nacional Republicana possui actualmente um quartel condigno, não se encontrando instalada numa casa de habitação da qual, noutros tempos, se pagava renda ao proprietário. Também os Bombeiros Voluntários possuem um quartel do qual se podem orgulhar.
A educação é uma preocupação e uma realidade, sendo que os nossos jovens não necessitam de abandonar o seu concelho para concluírem o ensino secundário, podendo-se mesmo esperar uma escola politécnica num futuro próximo. As diversas instituições públicas encontram-se em instalações próprias, como é o caso das conservatórias, do cartório notarial e dos correios, que em tempos foram inseridas no edifício dos Paços do Concelho.
Avenidas, ruas asfaltadas, passeios calcetados, podemos sonhar com uma urbe!
Muita coisa falta diz-nos o leitor! Claro que falta, é esse o espírito dos Poiarenses. É claro que se terá de fazer mais, mas por vezes já parece milagre, pois só podemos construir consoante o que temos.
Por vezes parece que temos muito pouco. Mas o que era Poiares há cento e sessenta e três anos? Sim quando nasceu o concelho! E há cem anos? Há cinquenta anos? Parece injusto exigir-se tanto, o possível e o impossível, mas são esses aspectos que servirão de mola impulsionadora daqueles que querem continuar o progresso desta terra. São, na nossa modesta opinião, injustos os comentários que se tecem em determinadas conversas a que por vezes assistimos.
Diversos são os comentários nos quais se compara o nosso concelho e o progresso que este teve com concelhos limítrofes, particularmente com Lousã ou Penacova. É lógico que se analisarmos a História desses concelhos nos apercebemos de que a sua antiguidade e as benesses a que tiveram direito, lhes permitem oferecer um leque mais variado de bens e serviços a que Poiares, por força das circunstâncias, nunca teve acesso. O que não quer dizer que o seu desenvolvimento recente tenha sido superior ao do nosso concelho.
Se procurarmos fazer uma comparação num mesmo período temporal, de forma alguma se poderá dizer que Poiares cresceu menos, muito pelo contrário. Poiares será um dos concelhos com maior desenvolvimento nas últimas décadas. Basta que, na referida comparação, pensemos no que eram os concelhos de Penacova, Lousã e Poiares em 1950 ou em 1974 e no seu estádio de desenvolvimento actual. Não será difícil de verificar que, proporcionalmente, Poiares terá tido um desenvolvimento mais acentuado.
Lousã e Penacova eram já concelhos centenários quando Poiares nasceu como concelho, e terá sido por isso que tantos problemas surgiram e foram inúmeros os jogos de poder. Mas, Poiares apesar de pequeno soube o seu lugar e impôs-se num território que era e é seu por direito.
Pensamos que nenhum Poiarense que ame a sua terra ache impossível que, com esforço e dedicação, se possa construir e projectar o futuro, por mais barreiras que se levantem, tudo poderá ser possível. O progresso ocorrido, neste último meio século, na História do concelho de Poiares e em particular no último quartel do século, é notório e de assinalar. Nos últimos vinte e cinco anos, Poiares marcou de uma forma definitiva a sua História, demarcando-se como concelho autónomo, como concelho que se orgulha do seu passado, do seu presente e que projecta o futuro, num território seu e com identidade própria.
Num voto de perfeitas venturas, esperamos que nos próximos anos se continuem a cumprir as profecias de alguém que em meados do século XX, traçou progressos que foram vistos como sonhadores. Progressos esses que hoje nós vemos como bem possíveis e que de futuro (esperemos que breve) sejam, uma realidade, pois estamos «caminhando para um Poiares melhor!».

(Jornal O Poiarense - do autor)



















Crónicas
da História Local


Número 1 (1 de Janeiro de 2000)

por: Dr. Pedro Santos