aboreira scriptorium

É pretensão deste espaço, ser um depósito de ideias, tónica de pensamentos do seu autor, sobre a actualidade em geral e com especial incidência em várias Culturas, no Turismo, no Património e na Gastronomia, em Vila Nova de Poiares, na Região das Beiras/ Portugal e no Mundo. Pedro Carvalho Santos, pensou-o ... e o fez ...

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Localização: Vila Nova de Poiares, Coimbra, Portugal

Existo - creio no meu Deus.

terça-feira, maio 15, 2018

Contando Lendas - Almeida



Corria o ano de 2003 quando criamos "Lenda da Chanfana", com os referidos nomes de personagens, lugares do concelho, enquadramento histórico e outros Saberes, foi-me pedido por quem na altura esteve envolvido neste processo, se não conseguiria fazer uma Lenda para Almeida afim de ser presente a esse Município. Não sei se alguma vez chegou a ser presente ao Município de Almeida, mas nós fizemos esses textos à semelhança do que tínhamos feito para Vila Nova de Poiares sobre a Lenda da Chanfana. É essa Lenda que hoje vos trazemos, pois não teria sentido ficar no nosso Arquivo ao fim de 15 anos.

Estrutura Geral

Titulo proposto: “Histórias e Lendas de Almeida”

(Cerca de 5 Páginas de Texto)

Altura Temporal: Finais do Século XIX.
Publico alvo: Crianças e Jovens (mais os adultos)
Previsão de conteúdos para cerca de 36 a 40 Páginas de BD
Criação de 3 Cx de Diálogo

Personagens Fictícias:

Na Fortificação (História)

João (que está junto à muralha/ fala sobre a História da Fortaleza)
Luís (que vai à Botica do Senhor Gastão)
Maria (que vai à Feira falar com o Augusto)

Feira (Tradições)

Augusto (negociante de gado)
Manuel (marido da Maria)
José (que quer 2 borregos para a Páscoa)

Lenda de Nossa Senhora das Neves (Lenda)

Joaquim (ajuda no diálogo)
Cacilda (ajuda no diálogo)
Adelino (ajuda no diálogo)
Marta (ajuda no diálogo)
Mateus (ajuda no diálogo)
“Gaiato” (interpela a Maria das Dores)
Maria das Dores (Anciã que narra a Lenda de Nossa Senhora das Neves)

Observações (Baseado na História de Almeida):
- Cunha, Telmo Gastão de Jesus, Almeida, estrela de memórias, Associação dos amigos de Almeida, Marques & Pereira, Lda, Guarda, 1999.
- Fortaleza de Almeida. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-10-19].

Inicio

 (Narração inicial junto à Muralha)
“Ti João”, sentado num tronco de árvore, observava as Muralhas de pedra que tinham atravessado os séculos e pensava muito cismado!
(balão de pensamento)
Muitos séculos se passaram desde que o Castelo primitivo de Almeida foi construído. Ideia antiga, obra de árabes, “moiros”, pois, ... desses sarracenos do Sul.
(caixa narrativa)
A Fortaleza Raiana de Almeida foi conquistada em 1039 pelo exército de Fernando Magno. Mas muitos disputaram este ponto estratégico - Leoneses, Portugueses e outros povos.
(inicio do diálogo)
- Então “Ti João”? Bom dia! - perguntou a “Ti Maria”, que ao passar, se chegava junto dele. (levava um fardo de palha à cabeça) - A pensar na “morte da Bezerra”?
- Não “Ti Maria”, estava aqui a pensar em muitas coisas, num turbilhão de pensamentos! De tudo um pouco. De quando estas pedras foram aprumadas, da vitória do Senhor Paio Guterres, ... sabe? O Almeidão, e de quando o nosso El – Rei D. Dinis, aquele que chamaram de  Lavrador, nos assegurou a nossa querida Almeida e as Terras de Riba – Côa. 
- Se sei! – Continuou a “Ti Maria” - Também para mim estas Muralhas fazem parte do meu ser! Sabe umas vezes aqui se ganhou outras se perdeu! Umas vezes Portugal, outras Castela e pronto!
- Então a vós dois muito bom dia – disse o senhor Luís que se aproximava.
- Bom dia! – Disseram em coro o “Ti João e a Ti Maria”.
- Senhor Luís ainda bem que aqui passou – disse a “Ti Maria”.
- Pois olhe ia indo prá Botica do Senhor Gastão – respondeu o senhor Luís – é que não dormi nada por culpa dumas “maleitas” que me atormentaram.
- Pois olhe, falávamos da muralha, de Almeida, de tudo! – disse a “Ti Maria”.
- Pois é..., a nossa terra, ... a nossa casa, onde brincamos e crescemos, a nossa vida!
Sabem? – disse o senhor Luís.

(convém 1 ou 2 balões de pensamento com cenas a ilustrar estes dois acontecimentos/ batalhas/ com os estandartes da vitória)

- Quando estou perto da muralha – continuou o senhor Luís - lembro-me da nossa História, de quando o grande Mestre de Avis tomou esta Fortaleza ao partido de D.ª Beatriz e de Castela na Crise de 1383-85.

- Pois, mas o pior foi há alguns anos! – Falou o “Ti João” caindo-lhe uma lágrima - Quando, esses Franceses, esses do Massena!... nos atingiram como se fossem punhais no nosso coração, ... na nossa gloriosa Almeida!

(Caixa narrativa com as respectivas ilustrações)
Todos se calaram, porque se lembravam dessas explosões que tinham apagado quase tudo o que era Medieval e Quinhentista. A monumentalidade que se vê desse sistema defensivo começou a ser erguida após a Revolução de 1640.

(ilustrar com obras de reconstrução, “estaleiro” de obras, por exemplo, placa com a data de 1641 e o Governador de Beja, Álvaro Abranches com a planta na mão da Fortaleza e no final de setecentos o Conde de Lippe)

- Pois! - disse o “Ti João” - Temos de preservar estas construções e estas memórias. Nos séculos XVII e XVIII, os resultados das batalhas nem sempre foram os melhores para Portugal, tendo havido avanços e recuos!
- Mas a culpa nunca foi das Muralhas, da Fortaleza e das “gentes” de Almeida, mas da indisciplina e da desorganização de certos comandos que vieram – retorquiu o senhor Luís.
- Ora isso é certo – disse a “Ti Maria” – Agora vão-me desculpar mas tenho de ir, porque ainda vou à Feira falar com o “Ti Augusto” das ovelhas.
- Bem, eu também vou indo – disse o senhor Luís – Vou à Botica buscar os meus comprimidos que já devem estar prontos.
- Até mais logo “Ti João” - disseram os dois.

(Ilustração da Feira de Almeida - mostrar tendas e feirantes (finais do século XIX); os vendedores - pequena caracterização com imagens da Feira, produtos; colocar a Muralha em pano de fundo, assim como o antigo Convento mencionado pela Técnica da Autarquia – vislumbrado ao longe)

(Caixa de Texto)
A Feira de Almeida é das mais antigas da nossa nacionalidade, aqui se vendiam inúmeros produtos da terra e da vizinhança. Comerciava-se produtos hortícolas, utensílios de barro, cestos, assim como animais de capoeira, gado e mais bichos vários.

(A “Ti Maria” vai ter com o “Ti Augusto das Ovelhas”)
- Então “Ti Augusto” como vai a saúde? – perguntou a “Ti Maria”.
- “Ti Maria” cá vamos, com a graça de Deus! – respondeu o “Ti Augusto”.
- O Manel tem andado com umas maleitas, mas hoje anda lá p’rás terras com o gado, mas pergunta se lhe compra uns cabritos de leite que lá tem. Que depois p’rá semana vem cá falar consigo! – disse a “Ti Maria”.
- E quantos são? Lá p’ra Oliveira do Hospital, na Beira, têm me pedido cabritos para a Páscoa! – disse o “Ti Augusto”.
- Olhe, o Manel diz que uns (balão de pensamento a contá-los 2 + 2 + 3)... p’ra ai uns 11 cabritos – disse a “Ti Maria”.
(Chega o “Ti Zé”)
- Ó “Ti Maria” bom dia, fale lá com o “Ti Manel” e veja se me arranja dois borregos para a Páscoa, que vem a família da cidade – disse o “Ti Zé”.
- Falarei, e p’rá semana fala com ele, que isso são coisas dele – disse a “Ti Maria”.

(Mostra da Feira, ou algum acrescento à História)

(Ilustrações/ Parte Narrativa do século XIX/ Caixa de Texto)
A Fortaleza de Almeida foi ocupada em 1807 pelo exército francês comandado por Junot. Posteriormente Almeida é libertada, mas em 1810 volta a sofrer novos ataques, Massena comanda a 3.ª Invasão Francesa e bombardeia fortemente a fortaleza a 26 de Agosto. Tiros certeiros atingem no interior um paiol de pólvora, o velho castelo medieval, a Igreja Matriz, assim como parte das casas de Almeida, reduzindo tudo a escombros. Arruinada a fortaleza, a resistência portuguesa quebra e rende-se a Massena.
Meses mais tarde, os franceses retiram-se sem glória de Almeida, deixando um rasto de violência e destruição.
(ilustrações/ imagens de Guerra, em sequência rápida/ cenário junto à Igreja Matriz, sentados em bancos de madeira os figurantes)
(caixa de texto)
“Ti Maria das Dores” era uma anciã com 95 anos e lembrava-se bem desse dia! Tinha nessa altura apenas 10 anitos quando “pareceu que o mundo ia acabar”!
- Ó Jaquim e quando a “Senhora” nos deu uma luz de milagre? – disse a “Ti Maria das Dores”.
- Eu lembro “Ti Maria” – disse o Joaquim (pouco mais novo que ela e agarrado ao cajado) - E aqui o Mateus também, não é Mateus?
- É pois sim senhora, apesar que o meu irmão mais velho, que Deus tenha é que se lembrava bem, até ajudou a fazer a fogueira - disse o Mateus.
A Marta atalhou dizendo.
- Tantas vezes que ouvi a minha “Ti Cacilda” e o “Ti Adelino” contarem essa história. A “Ti Maria das Dores” é que a sabe bem! Conte-nos a História mais uma vez “Ti Maria das Dores” – disse a Marta.
- Tá bem, tá bem! E não me canso de a contar.
(Lenda narrada pela “Ti Maria das Dores”)
- Lembro-me como se fosse hoje! Estava à porta de casa a bordar uns lençóis quando o chão tremeu, o sol apagou-se e um barulho de deixar de ouvir se fez! Só via fumo e muitas explosões ao mesmo tempo, … e também durante muito tempo. Tudo caía! Os homens gritavam, as mulheres andavam dum lado para o outro, erguendo as mãos ao céu!… lembro-me… do medo. Como ficou tudo destruído as pessoas ficaram sem coragem e tristes. Sempre que passavam num sítio estava tudo caído
(ilustrar com ruínas/ ou outras)

- Foram dias e meses de agrura e desconsolo – disse a “Ti Maria das Dores” - Na Primavera seguinte, num dia que não sei precisar ao certo, alguém falou em limpar tudo, começar a queimar o que não prestava numa grande fogueira. O dia estava limpo e muito bonito. O sol brilhava muito nessa manhã Primaveril. Todos estavam a arejar e a limpar tudo, respirava-se ar puro e tranquilidade. Os restos que não prestavam e traziam má recordação foram sendo queimados numa grande fogueira.

- E depois “Ti Maria das Dores” - perguntou um pequeno “gaiato” que ali tinha chegado e ficado a ouvir a história maravilhado.
- Já vou! Já vou! - disse a “Ti Maria das Dores”.
- De repente, (fazer pausa de suspense) … sem ninguém estar à espera… o sol fugiu, veio muito frio e muita neve, gelando tudo e todos, apagando a fogueira por completo, deixando todos sem fala, mudos e incrédulos – disse a “Ti Maria das Dores”.
- O irmão aqui do Mateus é que de repente deu o alerta! – continuou a “Ti Maria das Dores” - No meio das cinzas e borralhos, dos destroços queimados e em fumo, o Mateus viu a imagem de Nossa Senhora que estivera no altar da Igreja Matriz. Quando todos olharam para a imagem, de olhos claros e fixos, a imagem apareceu estar a questionar o porquê daqueles actos, pois o seu lugar era no altar a velar pelos Almeidenses e não naquela fornalha. Com todo o cuidado foi limpa e restaurada para ser colocada novamente no Altar. A Imagem passou a ser uma mensagem de amor e de esperança renovada dos Almeidenses que nunca mais se quiseram separar dela. A Vila de Almeida e os Almeidenses passaram assim a estar intimamente ligados à sua Nossa Senhora que fez nevar num dia de Primavera apelidando-a de Nossa Senhora das Neves.
(Todos bateram palmas e felizes levantaram-se para ir para as suas casas)

(a parte final, voltando ao “Ti João” ao pé da Muralha)
(caixa de texto)
O “Ti João” continuava sentado no tronco de árvore a pensar, a observar, cismado! Observava as muralhas de pedra que o protegiam, que lhe davam conforto, com as quais tinha crescido e sempre vivido! “Ti João” viu passar um rapazinho e uma menina, que brincavam. Passaram-se séculos, muitas crianças por ali passaram, outros viriam em gerações futuras e as Muralhas… estariam lá sempre, fortes e singulares, símbolo e orgulho dos Almeidenses e de Portugal.

Fim

Texto de Pedro Carvalho Santos
 

segunda-feira, maio 14, 2018

Freguesia de Santa Maria






Santa Maria é sede de freguesia. Junto a este local encontra-se o lugar da Arrifana. Designa-se também por Santa Maria da Arrifana. É o lugar do concelho com registos mais antigos vindos desde antes da nacionalidade. Verdadeiro berço das “Terras de Poyares”, é onde possuímos os escassos mais antigos vestígios edificados do passado do concelho. Grande parte da História do Poiares Setecentista passa ou passou por aqui. No interior da Igreja de Santa Maria em “chave”, existe um escudo partido, onde se encontram as armas de Portugal e da Universidade de Coimbra grande senhoria destas “Terras de Poyares”.



“É a Freguesia mais antiga do concelho, do hoje Território que compõe Vila Nova de Poiares. Até 1835 foi a “Cabeça” dos antigos concelhos do Antigo Regime, as 7 Varas destes povoados de Poyares, tinha jurisdições que extravasavam os limites do concelho actual.

No início da Nacionalidade fez parte dos domínios de Santa Cruz de Coimbra passando posteriormente às rendas do Prior-Mor da Universidade. Neste Território que compunham estas “Terras de Poyares” na Idade Moderna, Arrifana foi centro dos domínios da Universidade de Coimbra sua grande donatária. Junto à Igreja em Santa Maria, uma casa de grandes dimensões possuía Celeiro, assim como existiam Juiz Pedâneo. Os Juízes de Fora e Ordinários vinham de Coimbra, que tinha o seu termo nestes povoados. A Igreja de Santa Maria é um ex-libris do concelho, “peça” fundamental no entendimento da História do concelho. No reinado de D. Sancho I, em 1195, a rainha D. Dulce concede foral à Albergaria de Poiares e ao Convento de “Sam Miguel”. A Albergaria de Poiares situava-se neste freguesia, verdadeira encruzilhada de estradas e caminhos.

 
As principais vias de comunicação e estradas também por aqui passavam: Estrada Real, Carvalho e Coimbra, Lorvão e Aveiro, além da grande importância do Porto Fluvial de Louredo. A Ponte “Romana” testemunha essas vivencias de outrora em Zona de Flora autóctone de Sobreiros, Carvalhos e outros Quercus. Desse lugar de Louredo chegavam “barcas serranas” que vinham de inúmeros sítios navegando desde a foz do Mondego, na Figueira da Foz, até, ao porto da Raiva. Sal, cereais, peixe, vegetais, assim como artigos de comercio em geral eram transportados até ao Porto de Louredo, derivando deste para muitos lugares das Beiras.


A Freguesia teve forte componente agrícola desde os séculos XVI e XVII, possuindo várias Quintas e “Casas de Lavradores Abastados”, como a Quinta das Moendas do Prazo ou a Quinta da Ordem ou ainda a Quinta da Beócia.
Ervideira, Casais e Oliveira são hoje aldeias desta freguesia da Arrifana. Terras de Manufaturas e oficinas, nomeadamente artesãos de artefactos de madeira e palitos, essa que foi a grande “indústria dos palitos dos dentes”. Também daqui saiam cestos e artigos em vime. Mobiliário de madeira e artefactos de usos quotidianos como gamelas, peneiras ou outros utilitários.


Nesta antiga Freguesia realizam-se inúmeras festas e romarias. No lugar de Algaça, antiga Jurisdição, é padroeiro Santo António; em Louredo a Nossa Senhora da Paz; no lugar do Sobreiro, São Martinho ou São Sebastião; Soutelo, Nossa Senhora da Piedade, nos Terreiros, Santo António e no Vilar comemoram-se as festas do Espirito Santo.
A freguesia de Santa Maria da Arrifana é limítrofe de Ceira, freguesia do concelho de Coimbra. Divide com este concelho a aldeia do Carvalho, lugar onde existe um monumento alusivo a um grande acidente aéreo. Por esta aldeia passava uma estrada importante vinda de Coimbra, vencendo o rio mondego e esta grande serra.
Santa Maria da Arrifana é assim terra de História e tradição, de rio e serra, de paisagens bucólicas, verdes florestas e matas. As suas aldeias enriquecem todos quantos a queiram visitar.

Casa da Lomba d' Aboreira na Risca Silva em 1 de Maio de 2018.