Três Mulheres que se destacaram na História de Vila Nova de Poiares
Acidália
Lopes Quaresma
Nasceu
na aldeia de Louredo, freguesia de Arrifana, concelho de Vila Nova de Poiares,
em 14 de Junho de 1921. Foi professora primária durante meio século no concelho
que a viu nascer assim como nos concelhos limítrofes e da Beira Serra. Granjeou
uma larga experiencia no ensino, lecionando como regente escolar em escolas de
diversos concelhos: Gois, Arganil, Coimbra, Penacova, Pampilhosa da Serra,
Tábua, Oliveira do Hospital e Vila Nova de Poiares.
Lecionou
durante 19 anos na freguesia que a viu nascer, na Escola Primária de Santa
Maria da Arrifana, entregando-se de “alma e coração” aos meninos da sua escola
transmitindo-lhes não só os rudimentos básicos da formação intelectual, mas
também os não menos importantes valores que devem servir de referência a cada
ser humano na sua vida de relação com os demais.
Quando
se aposentou no limite da reforma aos 70 anos a professora acarinhada do povo
continuou até a sua saúde assim o permitir como catequista da sua freguesia, Paróquia
da Arrifana, mantendo o contacto com as crianças.
Em
2004 foi lançado um livro de poesias “Mensagens de Fé e Amor” onde se retracta
uma vida de coisas simples, de amor e de vida com o pseudónimo, “Maria do
Sol-Poente”.
Dá
também o nome a uma rua na Freguesia de Arrifana, inscrita na toponímia do
concelho como “Rua Acidália Quaresma”, em percurso que realizou ano após ano
para a sua escola primária e para as salas paroquiais em prol do ensino e
educação de crianças e jovens. Faleceu a 10 de Dezembro de 2007.
Maria
Júlia Ferrão Castelo Branco da Costa e Silva
Nascida
com a implantação da República a 2 de dezembro de 1910, foi uma das grandes
figuras beneméritas do concelho, num dos períodos difíceis da nossa História.
No
HBP (Hospital de Beneficência Poiarense), Dona Maria Júlia viria a implementar
a “Sopa dos Pobres”, que chegou a servir mais de 14 mil refeições aos pobres do
concelho. Esta benemérita assumia a contribuição mensal de 200$00 a esta
entidade. A sua ação humanista estendia-se além dos mais necessitados, tendo
criado o “Enxoval do Recém – nascido” que contemplava todas as crianças
nascidas na enfermaria deste hospital e suas mães, com um berço, roupa e
brinquedos.
Frequentemente
enaltecida pelas autoridades municipais, a sua “ação abnegada e seus nobilíssimos
sentimentos de caridade”, refletiam-se nos generosos e sempre renovados
contributos para o funcionamento das instituições de auxílio do concelho por si
apadrinhadas.
A
12 de julho de 1955, a par com outras Senhoras da época, viria a constituir a
“Sopa Infantil” destinada a alimentar, fornecer vestuário, disponibilizar livros,
assim como dar assistência médica e medicamentosa às crianças mais
desfavorecidas do concelho.
Em
1959, a 2 de fevereiro, fundou a “Casa de Trabalho de Nossa Senhora das
Necessidades”, uma obra que visava ensinar às raparigas do meio rural as tarefas
e lavores que lhe eram exigidos à época. Largas dezenas de raparigas da
Comunidade aí aprenderam as artes domésticas e interiorizaram a moral e os bons
costumes.
Para
promoção das suas obras era frequente a realização de festas de solidariedade,
frequentadas pelos ilustres do concelho, mas também da vizinha cidade de
Coimbra. O Bispo de Coimbra, D. Manuel de Jesus Pereira, e o Governador Civil
de Coimbra, Eng.º Horácio de Moura, eram presença frequente nas mesmas.
Maria
Júlia Ferrão Castelo Branco da Costa e Silva assumiu-se sempre como uma Poiarense
na luta pela igualdade e direitos das mulheres, com uma apurada sensibilidade
para auxiliar os mais desfavorecidos através das suas obras de cariz social.
Ainda
em vida teve diversas honras do concelho, nomeadamente o seu nome na designação
da Cantina Escolar da Escola Primária do Concelho, dado ter assumido a despesa
da construção desse refeitório. Dá também o nome a um trecho da histórica rota
da N2, inscrito na toponímia do concelho como “Rua D. Maria Júlia Dias Ferrão –
Benemérita do Concelho – 1910 - 1964”.
Fausta
Augusta Madureira Morais
Nasceu
a 7 de agosto de 1917 em São João da Pesqueira. Aos 26 anos é colocada a
lecionar na Escola Feminina de Vila Nova de Poiares.
Bastante
ativa nas suas funções criou na sua escola um Grupo Folclórico de uso privado,
com danças e cantares regionais, assim como um Grupo Coral. Na Associação
Recreativa de São Miguel organizou um Grupo de Teatro que fez inúmeras
representações, agregando a juventude da freguesia com forte entusiasmo.
Na
década de 1940, perante as privações e a fome que largamente assolavam o país e
o concelho, criou a cantina escolar na Freguesia de São Miguel de Poiares,
possibilitando às crianças a segurança de uma refeição diária. Esta cantina
viria a funcionar durante o dia no Club Recreativo e Cultural, fundado por Fausta
Morais e seu marido, local onde à noite os associados se juntavam para
convívio, ler notícias nos jornais, ouvir rádio, em particular notícias da
guerra emitidas através da BBC de Londres pela voz de Fernando Peça.
Chamou
a si um papel dinamizador no denominado “Centro de Ajuda Rural”. Neste centro,
Fausta e um conjunto de educadoras recebiam raparigas e donas de casa, para aí
frequentarem vários cursos, entre eles de primeiros socorros em colaboração com
a Cruz Vermelha Portuguesa. A par deste ministrou gratuitamente um Curso
Noturno de Alfabetização de Adultos.
Em
meados da década de 1960 é mentora da criação de uma Colónia Balnear em Mira, possibilitando
a rapazes e raparigas do concelho o contacto com o mar e a praia, sempre de
modo alternado para que nunca se encontrassem. Só eram admitidas crianças cujas
condições socioeconómicas familiares o justificassem, sendo o recrutamento
feito através das escolas.
Com
o apoio da Junta de Freguesia de São Miguel fundou o “Centro de Apoio aos
Peregrinos de Fátima”, que funcionaria junto à estrada EN17. Local onde os
peregrinos podiam tomar banho, quente ou frio, ter acesso a massagens, a
refeições quentes, chá ou café, e onde podiam pernoitar.
Foi
Coordenadora, e principal responsável no concelho, de um Grupo da Liga
Portuguesa Contra o Cancro, fomentando e apoiando o rastreio através de
mamografias, promovendo o esclarecimento e propaganda sobre a vacinação, entre
outros. Teve a iniciativa de oferecer enxovais de bebes para mães carenciadas
aquando do nascimento, assim como um cabaz solidário a ofertar às famílias dos
bombeiros na Noite de Consoada.
Recebeu a “medalha de Ouro” pelos serviços
distintos prestados ao concelho, a 25 de abril de 1993. Viria a falecer a 3 de
agosto de 1998, em São Miguel de Poiares.