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sexta-feira, março 19, 2021

Três Mulheres que se destacaram na História de Vila Nova de Poiares

 

 

Acidália Lopes Quaresma

Nasceu na aldeia de Louredo, freguesia de Arrifana, concelho de Vila Nova de Poiares, em 14 de Junho de 1921. Foi professora primária durante meio século no concelho que a viu nascer assim como nos concelhos limítrofes e da Beira Serra. Granjeou uma larga experiencia no ensino, lecionando como regente escolar em escolas de diversos concelhos: Gois, Arganil, Coimbra, Penacova, Pampilhosa da Serra, Tábua, Oliveira do Hospital e Vila Nova de Poiares.

Lecionou durante 19 anos na freguesia que a viu nascer, na Escola Primária de Santa Maria da Arrifana, entregando-se de “alma e coração” aos meninos da sua escola transmitindo-lhes não só os rudimentos básicos da formação intelectual, mas também os não menos importantes valores que devem servir de referência a cada ser humano na sua vida de relação com os demais.

Quando se aposentou no limite da reforma aos 70 anos a professora acarinhada do povo continuou até a sua saúde assim o permitir como catequista da sua freguesia, Paróquia da Arrifana, mantendo o contacto com as crianças.

Em 2004 foi lançado um livro de poesias “Mensagens de Fé e Amor” onde se retracta uma vida de coisas simples, de amor e de vida com o pseudónimo, “Maria do Sol-Poente”. 

Dá também o nome a uma rua na Freguesia de Arrifana, inscrita na toponímia do concelho como “Rua Acidália Quaresma”, em percurso que realizou ano após ano para a sua escola primária e para as salas paroquiais em prol do ensino e educação de crianças e jovens. Faleceu a 10 de Dezembro de 2007.


Maria Júlia Ferrão Castelo Branco da Costa e Silva

Nascida com a implantação da República a 2 de dezembro de 1910, foi uma das grandes figuras beneméritas do concelho, num dos períodos difíceis da nossa História.

No HBP (Hospital de Beneficência Poiarense), Dona Maria Júlia viria a implementar a “Sopa dos Pobres”, que chegou a servir mais de 14 mil refeições aos pobres do concelho. Esta benemérita assumia a contribuição mensal de 200$00 a esta entidade. A sua ação humanista estendia-se além dos mais necessitados, tendo criado o “Enxoval do Recém – nascido” que contemplava todas as crianças nascidas na enfermaria deste hospital e suas mães, com um berço, roupa e brinquedos.

Frequentemente enaltecida pelas autoridades municipais, a sua “ação abnegada e seus nobilíssimos sentimentos de caridade”, refletiam-se nos generosos e sempre renovados contributos para o funcionamento das instituições de auxílio do concelho por si apadrinhadas.

A 12 de julho de 1955, a par com outras Senhoras da época, viria a constituir a “Sopa Infantil” destinada a alimentar, fornecer vestuário, disponibilizar livros, assim como dar assistência médica e medicamentosa às crianças mais desfavorecidas do concelho.

Em 1959, a 2 de fevereiro, fundou a “Casa de Trabalho de Nossa Senhora das Necessidades”, uma obra que visava ensinar às raparigas do meio rural as tarefas e lavores que lhe eram exigidos à época. Largas dezenas de raparigas da Comunidade aí aprenderam as artes domésticas e interiorizaram a moral e os bons costumes.

Para promoção das suas obras era frequente a realização de festas de solidariedade, frequentadas pelos ilustres do concelho, mas também da vizinha cidade de Coimbra. O Bispo de Coimbra, D. Manuel de Jesus Pereira, e o Governador Civil de Coimbra, Eng.º Horácio de Moura, eram presença frequente nas mesmas.

Maria Júlia Ferrão Castelo Branco da Costa e Silva assumiu-se sempre como uma Poiarense na luta pela igualdade e direitos das mulheres, com uma apurada sensibilidade para auxiliar os mais desfavorecidos através das suas obras de cariz social.

Ainda em vida teve diversas honras do concelho, nomeadamente o seu nome na designação da Cantina Escolar da Escola Primária do Concelho, dado ter assumido a despesa da construção desse refeitório. Dá também o nome a um trecho da histórica rota da N2, inscrito na toponímia do concelho como “Rua D. Maria Júlia Dias Ferrão – Benemérita do Concelho – 1910 - 1964”.

 

Fausta Augusta Madureira Morais

Nasceu a 7 de agosto de 1917 em São João da Pesqueira. Aos 26 anos é colocada a lecionar na Escola Feminina de Vila Nova de Poiares.

Bastante ativa nas suas funções criou na sua escola um Grupo Folclórico de uso privado, com danças e cantares regionais, assim como um Grupo Coral. Na Associação Recreativa de São Miguel organizou um Grupo de Teatro que fez inúmeras representações, agregando a juventude da freguesia com forte entusiasmo.

Na década de 1940, perante as privações e a fome que largamente assolavam o país e o concelho, criou a cantina escolar na Freguesia de São Miguel de Poiares, possibilitando às crianças a segurança de uma refeição diária. Esta cantina viria a funcionar durante o dia no Club Recreativo e Cultural, fundado por Fausta Morais e seu marido, local onde à noite os associados se juntavam para convívio, ler notícias nos jornais, ouvir rádio, em particular notícias da guerra emitidas através da BBC de Londres pela voz de Fernando Peça.

Chamou a si um papel dinamizador no denominado “Centro de Ajuda Rural”. Neste centro, Fausta e um conjunto de educadoras recebiam raparigas e donas de casa, para aí frequentarem vários cursos, entre eles de primeiros socorros em colaboração com a Cruz Vermelha Portuguesa. A par deste ministrou gratuitamente um Curso Noturno de Alfabetização de Adultos.

Em meados da década de 1960 é mentora da criação de uma Colónia Balnear em Mira, possibilitando a rapazes e raparigas do concelho o contacto com o mar e a praia, sempre de modo alternado para que nunca se encontrassem. Só eram admitidas crianças cujas condições socioeconómicas familiares o justificassem, sendo o recrutamento feito através das escolas.

Com o apoio da Junta de Freguesia de São Miguel fundou o “Centro de Apoio aos Peregrinos de Fátima”, que funcionaria junto à estrada EN17. Local onde os peregrinos podiam tomar banho, quente ou frio, ter acesso a massagens, a refeições quentes, chá ou café, e onde podiam pernoitar.

Foi Coordenadora, e principal responsável no concelho, de um Grupo da Liga Portuguesa Contra o Cancro, fomentando e apoiando o rastreio através de mamografias, promovendo o esclarecimento e propaganda sobre a vacinação, entre outros. Teve a iniciativa de oferecer enxovais de bebes para mães carenciadas aquando do nascimento, assim como um cabaz solidário a ofertar às famílias dos bombeiros na Noite de Consoada.

 Recebeu a “medalha de Ouro” pelos serviços distintos prestados ao concelho, a 25 de abril de 1993. Viria a falecer a 3 de agosto de 1998, em São Miguel de Poiares.

 

 

 

 

 

 

"Lenda do Calhau da Escada"

No alto da serra de São Pedro virado para o maciço central da Serra da Estrela, num local que os populares chamam de Vidoeiro, encontra-se um grande penhasco que chamam “calhau da escada”. 

Neste penhasco dizem que desde os tempos imemoráveis foram enterradas por um rei Mouro três panelas. Uma com ouro, outra com prata e a terceira com uma forte peste e desgraça. No lugar ali bem perto da aldeia de Sabouga os populares sempre procuraram a fortuna, no entanto advertidamente diziam: - se encontrarmos a panela de ouro ou prata ficaremos ricos, mas se for a da peste, Deus nos acuda, pois o calhau demanda serra abaixo, querendo explicar uma desgraça. 

Vila Nova de Poiares 

Lenda popular de registo oral recolhida no ano de 2019 

Adaptação: Pedro Santos