aboreira scriptorium

É pretensão deste espaço, ser um depósito de ideias, tónica de pensamentos do seu autor, sobre a actualidade em geral e com especial incidência em várias Culturas, no Turismo, no Património e na Gastronomia, em Vila Nova de Poiares, na Região das Beiras/ Portugal e no Mundo. Pedro Carvalho Santos, pensou-o ... e o fez ...

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Localização: Vila Nova de Poiares, Coimbra, Portugal

Existo - creio no meu Deus.

quarta-feira, maio 23, 2012

Contributos para a História da minha Terra.

Contributos para a História da minha Terra. O concelho de Santo André de Poyares, nasceu em 1836. Nasceu por Decreto em Dezembro desse mesmo ano. A primeira “Câmara” reuniu-se em Janeiro de 1837. Em 1855 foram suprimidas terras desse concelho. Foi extinto por Decreto em Dezembro de 1866. No mês seguinte, Janeiro de 1867 foi restaurado com a influencia do Dr. José Dias Ferreira de Pombeiro, amigo do Concelho. Conforme os jogos de poder do século XIX foi novamente extinto em 1895 (Ditadura de João Franco), para a 13 de Janeiro de 1898 ser restaurado em definitivo. Poiares tem a particularidade de não ter “casco velho”! Ou seja Poiares, como Vila não tem um centro Histórico definido, com antigas Casas de Câmara, Pelourinho, Celeiro e todos os Edificios que caracterizam os Concelhos do Antigo Regime. Também não tem Foral Régio, nem Afonsino nem Manuelino. Poiares, hoje apelida-se de Vila Nova de Poiares, mas, ... sem ter Vila velha! É uma Vila Nova sem “Casco Velho”. Três rios delimitam aproximadamente o concelho: Mondego, Ceira e Alva. No passado estas fronteiras concelhias eram mais notórias na zona de Segade por exemplo e em Friúmes. Em 1905 o rei D. Carlos atribui o titulo de Vila a Poiares, atitude esperada e normal. Poiares Santo André é assim a única Freguesia a ostentar o Titulo de Vila. São Miguel de Poiares e mesmo Arrifana poderiam também usufruir desse titulo, sendo que penso nunca ter havido “movimento” ou iniciativa que promovesse tal pretensão. São Miguel de Poiares pela antiguidade, do tempo das rendas à Universidade de Coimbra e atestando o seu lugar estratégico, em termos de rodovias por exemplo além de nas últimas décadas ter tido forte desenvolvimento Industrial. Arrifana tem uma história que sobressai e quanto a mim até seria esta povoação que deveria ostentar o titulo de Vila em virtude do seu rico passado. Aqui existiam vestígios reais, de Casas de Câmara, Celeiro e Adega, não sebendo se não teria existido administração de justiça. Ao que sempre pude constatar esta advinha do concelho de Coimbra através de um Juiz de Fora, mas poderá a dado momento ter tido Justiça própria. Fica-me a dúvida. As vias de comunicação que já comentei várias vezes eram deveras importantes e terá sido factor crucial de desenvolvimento destas terras de Monteiros Mores. Gentes de Poiares, gentes de labuta e laboriosas, trabalharam a terra, araram os campos, praticaram comercio e fizeram alguma industria, como o azeite, a cera, as mós e tantos outras. «O povo deste concelho é, no geral, muito laborioso e, além da cultura da terra, a que se entrega com afã emprega-se em vários ramos de comércio e industria, sendo o principal azeite e fabrico e exportação de cara branca e amarela». Pinho Leal (século XIX). O Dr. Antonino Henriques, professor, figura do concelho, que se debruçou sobre diversos assuntos culturais, escreveu ditos populares; ao “nascer um homem, nascia um pau e um saco”, nomeadamente na povoação da Risca Silva. Recolha de papel, ferro velho e metais, comercio de gado e diversos objetos de quem não possuía «os cabedais» necessários para negócios de «monta». Poiares possui património religioso, como é comum no nosso país. Possui motivos que o diferenciam na Região onde se insere. As cantarias vermelhas, Esculturas nesta pedra, a Igreja de São Miguel de Poiares, os altares mores alusivos à Donatária, a Universidade de Coimbra, património móvel, como cálices, custódias assim como ricas cruzes processional, caso da de São Miguel de Poiares. De Santa Maria temos apreço do altar mor, peça de grande categoria em talha dourada de inicio do reinado de D. João V (aqui possui o brasão central partido com armas de Portugal e da Universidade). É incontornável, estar a ter estes “pensamentos pensados, falados e escritos” sem mencionar o artesanato. Poiares como tantos concelhos do país é um concelho rico em artesanato. Não podemos no entanto falar em grande desenvolvimento e inovação do seu artesanato. Na realidade nos últimos anos não houve, salvo algumas iniciativas de IPSS do concelho, uma verdadeira “escola continua e de formação de artesãos”. Também não se deslumbram iniciativas que se comparem com outros concelhos onde surgem verdadeiras formações e escola deste tipo de actividade. Lousã, Miranda do Corvo, Santa Comba Dão, Penacova, Tondela, para não enumerar muitos mais concelhos que tem “feito obra” dinamizando e perpetuando “estes saberes fazer”, apostando nesta área! Criaram inclusive Associações Culturais vocacionadas exclusivamente para essa área do património. No entanto e ao nível de alguma promoção artesanal, penso que existiram trabalhos efectuados e que têm tido algum relevo e expressão ao nível, Local e Nacional, caso das Feiras Locais, Regionais e Nacionais, assim como nos diversos meios de Comunicação Social. O Artesanato seria assim realmente a aposta certa, apesar que já tardia, dando-lhe o relevo que ele pede e a inovação que se impõem. Falta Coordenação, apoios Financeiros e Logísticos. A principal riqueza cultural de Poiares, assenta assim neste “produto”, o Artesanato que, associando e complementado com a inevitável Gastronomia, pelo esforço promocional desta nos últimos anos devem ter o papel de destaque imperativo que o concelho necessita para a sua maior afirmação de raízes e da sua própria Identidade. (note o nosso leitor que o concelho não possui outros legados, nomeadamente físicos e arquitectónicos, pelo que, como a História não se pode inventar ou alterar, à que dar ênfase verdadeiramente ao que se tem, enaltecendo o “produto cultural” que se justifica e transforma-lo em mais valia cultural e até económica) O Dr. Antonino Henriques, proferiu e escreveu por diversas vezes (nos anos ’80)/ Ver O Poiarense – Setembro de 1988 por exemplo) da necessidade de Construir a Casa Cultural de Poiares e outras diversas Infra-estruturas, que passados 25 anos, ou seja um quarto de século passado ainda não possuem unidade orgânica e funcional, continuando assim, numa altura em que o país possui já uma manta cultural significativa, num estado “avulso” e de “vontades”. Barros Pretos, agora certificados devido principalmente à promoção da Chanfana, cestaria, artefactos de madeira em salgueiro branco, os palitos em flor e de pestana, canastrarias, mantas e tapetes de trapos, latoaria, as mós, artefactos de ferro, trabalhos de ceiras e capachos e tantos outros que sabemos não possuírem escola e continuidade sustentada. Faltam apoios, porque acredito porventura que projectos apareceriam. Note-se o trabalho em pedra vermelha, das mós como decoração, como artigo de restauro, caso das mós vendidas para o Palácio de Queluz, como cantarias para a construção civil, restauro (caso fosse impulsionado, coisa que não é) numa óptica de uma leitura Cultural e Patrimonial no futuro do concelho. Sempre haverá no entanto pontos discordantes e leituras diferentes das matérias, mas talvez inteirando-se o leitor do trabalho de Molelos ou Bizalhães para dar dois exemplos se entenda melhor como dinamizar este e outros sectores. A Capela de Nossa Senhora das Necessidades simboliza a Padroeira do Concelho. “Virgem das Necessidades, Dizei-me, onde andais? Moro ao pé da Risca Silva, No meio dos pinheirais” Hoje fruto da expansão da Vila sede de concelho para Nascente e Sul já não se nota pinheirais ou grandes zonas florestais. Hoje as realidades são diferentes e não existem os Romeiros, a pé que existiam em outros tempos. Outros Romeiros existem, vem de automóvel por exemplo. O sentido de piquenique de degustar em cima de uma talha de trapos, esvaiu-se no tempo. À décadas eram inúmeros Romeiros que vinham das Beiras em busca de uma das maiores Romarias do Distrito de Coimbra. Vinham em alegres Ranchos, em carros de bois decorados e enfeitados com verduras que depois de “cantarolarem” e dançarem faziam quadras a Nossa Senhora: “Senhora das Necessidades, Mandai tira-la da areia, Que lhe entra nos sapatos Pelos buracos das meias.” Pedro Carvalho Santos Beira/MZ Nota: Recordo uma figura que vinha todos os anos a casa dos meus avós. Quem é perguntei certo ano? A minha avó respondeu que era um senhor que vinha da “Beira” todos os anos à Festa, o homem lá sentava nos bancos à saida da casa e “piquenicava” havendo sempre um prato de sopa ou conduto”. Mal sabia eu com uns 7 ou 8 anos que estava perante um Romeiro da Beira/ Oliveira do Hospital, Tábua, Midões. Era comum ainda no final dos anos ’70 e inicio dos ’80, nas traseiras da Capela muitas familias saborearem comidas Beirãs, sobre toalhas no chão, havendo algumas que catarolavam e tocavam vários instrumentos de corda. Recordações de um tempo que foi, ...

sábado, maio 05, 2012

Simplesmente “comida”! Meio século ou mais para trás!

Simplesmente “comida”! Meio século ou mais para trás! Por vezes e na falta de documentos que o comprovem ou vestígios físicos, podemos imaginar “cenários” que poderão ter imperfeições, mas que também poderão trazer tempero ao prato gastronómico que estamos a cozinhar! Hoje no concelho de Vila Nova de Poiares é usual ir ao restaurante! Mas nem sempre assim foi. Temos que entender a realidade factual da história quando estudamos estes Territórios Poyarenses que não tiveram tradição municipalista, concelhia e que apenas surge como concelho à menos de dois séculos. Importar idéias e tradições exteriores ao concelho de Poiares é e será sempre perigoso, factor de descaracterização deste (e descaracterizando do seu passado já ele está que chegue). É necessário ter Identidade, é necessário ser genuíno e autentico, ai estará a força de um Povo, não com “invenções” despropositadas numa ânsia de querer o que nunca se teve e, ... cair no ridículo! Falo nisto porque assisti por várias vezes vontades de adulterar e inventar o que não se teve e não se tem, mas porque os outros tinham, então também se tinha que ter! É necessário trilhar caminhos próprios e não a plagiar e ir a “reboque” de quais queres outros, de quais queres modas. Assim não vamos falar do que não temos nem nunca tivemos, falemos sim com a humildade certa, das nossas tradições motivo de orgulho da nossa História Local e Regional. Em Poiares é tradição “o pão de cabeça” ou “pão de testa”, “boula de sardinha e de carne”/ ou do que havia ao tempo, enchidos por exemplo. Estas boulas eram feitas com os restos de massa que sobravam na gamela, em dias de cozedura. As broas, embrulhavam-se em panos, na arca do milho, longe dos ratos e outros bichos que tais, peçonhentos. No dia de Feira, sobre uma fatia de broa, traçada de milho e trigo (pouco que era dos ricos) e algum pedaço de centeio, têm uma sardinha assada, quando também não era metade para o do lado. As sardinhas tinham viajado de carro de bois, à cabeça e muito posteriormente de “camioneta”/autocarro que ainda bem me lembro (anos ’70). De sopas podemos falar em couve esfarrapada, a Galega, com feijão louro, massa grossa eventualmente com fio de azeite (genuíno de Portugal)/ Mesa Mediterrânica e que o concelho nas suas casas orgulhosamente tinha em potes e talhas. A sopa levava carne, pouca, que era rara e só em algumas casas mais ricas ou em que os donos negociavam gado, lá dava um sabor de satisfação. No caldo um copo de vinho tinto, que dava outra “alma”! De sopas falamos do caldo verde, caldo de carnes, “caldo dos doentes”! Couve, Porqueira, alta, Galega/ Serrana, mais rica ou mais pobre conforme o recurso. Nos peixes, os do rio e eram vários os rios! Mondego, Alva e Ceira, traziam “peixe do rio”. No tempo mais antigo subia ajudado por carros de bois pela estrada de Louredo! Frito e em molho de escabeche, fazia mal, mas como tudo na vida sabia bem! Conservava-se neste molho o tempo desejado. Os menores fritos e bem fritos comiam-se inteiros, pois a fritura havia eliminado as espinhas que agora, não faziam qualquer impressão gustativa. Nos maiores lá saia uma espinha maior para o lado por ser mais grossa. Torresmos no nosso concelho são mais falados e divulgados, idéia diferente de outros concelhos quando se fala de Sarrabulho. Negalhos também já explorados, petisco ou prato de grande mestria e asseio. A Chanfana, Lampantanas e outros têm lugar cativo em outros dizeres, aqui não se toca agora, fica mais à frente para terminar. Caçadores também existiram e ainda se crê que por ai haja. Coelho bravo, fica Coelho á Caçador, com cebola, azeite, colorau, louro, alhos, marinando com vinho tinto de preferência que seja bom! E os doces, filhoses “levadas”, abóbora menina, fermento e farinha de trigo sem açúcar, mel só se for casa disso! Tradição de Natal! Sim porque bolo rei não havia na generalidade das casas Poiarenses. Humildemente se fala, mas com verdade, bolo rei, não! Folar, sim esse é tradição poiarense, tal como nos concelhos vizinhos, que com Grandes Mosteiros e Conventos tinham que dar “sumiço” aos ovos que recebiam. Não tem ovo em cima. Mas acrescentemos que quando bem feito é fofo e delicioso. Tigeladas são dúbias, talvez numa casa mais rica, importado do vizinho concelho da Lousã, ou Arganil, talvez Coimbra. Aqui nas casas mais ricas fazia-se sim o Pão de ló, isso nas casas mais ricas, porque na generalidade “ta quieto” nem pensar! Lógico que estamos a falar num tempo antigo à época, onde o leitor de hoje se puderá questionar! Mas procure nas aldeias poiarenses, nas anciãs e comprove que a realidade era diferente da que hoje vivemos e supomos, à Tradições fundamentadas e Invenções criadas. Alguém por quem tenho consideração dizia-me à uns anos: “Não respeitam a realidade, querem deturpar a verdade, querem ser grandes e não entendem que o valor desta terra está na humildade!” Palavras sábias de alguém com cerca de 60 anos acompanhada pela mãe octogenária, que sempre gostei de ouvir e muito aprender! Aliás sempre me rodeie de pessoas que considerei Memórias Vivas do Concelho. Hoje algumas infelizmente não se encontram entre nós, perda irreparável, conversas que se perderam porque nunca fora possível ouvir! Para terminar este percurso pensado e escrito como de conversas pudéssemos falar, a Chanfana, pelo prato e pelo investimento. A Chanfana em Poiares, diga-se na Vila de Poiares, recuando várias décadas, servia-se em “tascas”, “cafés”, estabelecimentos que nada tem a ver com a idéia que hoje temos de Restaurante. Aliás não havia dinheiro para restaurantes, para “comer fora”. Havia feira, essa que já se sabe e conhece no centro de Poiares. Sim nessa rua ladeada de prédios, primeiro de rés-do-chão, depois de primeiro andar e depois completamente adulterado do seu nascimento Oitocentista. Digo isto porque presentemente é um emaranhado de estilos confusos, fruto de falta de planeamento a partir dos anos ’60 até aos dias de hoje e que duvido que alguém sinta alguma proporcionalidade e beleza Arquitetônica seja ao nível de edifícios, seja em termos de Arquitetura Urbanística. Chanfana vendia-se, muita, com broa, na “Laurinda do Silvano”, onde hoje é a loja do Sr. Elíseo dos Panos, no “Chico da Cabine”, no antigo Mercado (hoje talvez o local da porta do restaurante “O Confrade”). Vendia-se Chanfana, na “Júlia do Cano” (hoje café do fundo da Vila), vendia-se também no “Quim da Peça” (Café do Soares), no “Tito” (onde era a loja do Sr.Valdemar Carvalho/ Credito Agrícola), Vendia-se Chanfana também no “Smith” (hoje CGD), na Sra. Mariquinha/ Marquinha” (Niltinha), no “João da Lata” (Cantinho da Ladeira), no “Medo” (Pensão Central), na “Adelina Lobo” (lobos), hoje Poiarescolor, no “Eduardo do fundo da ladeira” (Fundo da Vila) e possivelmente em outros sítios que tais, menos em restaurantes como se compreende! Para mim falar de Poiares e na sua História é sempre uma descoberta com certezas e incertezas, com perfeições e imperfeições, mas escrevamos, falemos, porque grande parte da lacuna deste concelho tem sido ninguém escrever, ninguém falar, ninguém opinar, mal ou bem, enfim nada se dizer! Pedro Carvalho Santos Beira/MZ 2012